terça-feira, 20 de maio de 2008

A Paz e a Concórdia

A Paz e a Concórdia
A Paz e a Concórdia

Estamos a entrar numa época do ano em que são frequentes os apelos à nossa sensibilidade para os valores da paz e da concórdia. E, na verdade, tais apelos encontram algum eco, tornando-nos, então, mais generosos, fraternos, tolerantes, numa palavra, humanos.Também é comum o apelo para que estes sentimentos não se resumam a esta época específica, mas que se estendam a todas as épocas e ocasiões. Todos comungamos estas intenções mas os comportamentos nem sempre demonstram correspondência coerente.Por outro lado, o modelo de sociedade em que nos inserimos, cada vez mais assente em práticas de servilismo, individualismo, autoridade e repressão, com o objectivo de chegarmos primeiro que os outros, de ficarmos à frente, de ganharmos, transforma essas práticas em caminhos para a desumanização e para a selva, afastando-nos dos caminhos da paz e da concórdia. Entramos, então, em conflito interior, o qual, por nos ser incómodo, procuramos mantê-lo no inconsciente, prosseguindo na via que conduz à ansiedade permanente, à insatisfação e à infelicidade.António Manuel Couto Viana, poeta e crítico literário, felizmente ainda vivo, num dos seus poemas constata com tristeza:

“ E o desejo mais alto

– Paz na terra!

-Tomba como uma flor emurchecida

- Na eterna guerra

- Em que se esvai a vida.”

Não podemos deixar que a Paz caia como uma flor emurchecida mas temos, sim, que cuidar que se mantenha sempre firme e bela.A cultura dos valores que conduzem à paz e à concórdia passa por pautarmos as relações para com os nossos semelhantes em clima de reciprocidade. E quando estivermos em posição de julgar os outros, pensemos se nós teríamos feito melhor nas mesmas circunstâncias. Assumamos que quem não é capaz de julgar a si próprio não tem o direito de julgar os outros, pois ninguém deve excluir-se de posturas que exige de outrém.Os caminhos para a paz e a concórdia passam sempre pela assumpção da falibilidade do ser humano. Quem nunca falhou? Quem nunca cometeu erros? Quem nos deu a faculdade de julgar os outros esquecendo que já cometemos falhas, porventura, mais graves? Para que participemos na construção duma cultura de paz e concórdia, temos de ir mais além do que o não desencadear da guerra. E o caminho tem de ser o de não criar conflitos e não o da resolução desses conflitos. Para tal importa que nos relacionemos uns com os outros em espírito de fraternidade e de compreensão mútua. A paz, como ideal, não pode ser a paz dos cemitérios nem a paz do medo e da repressão. A concórdia, como ideal, não pode ser a indiferença, nem a falta de afectividade, para com os outros.Uma sã cultura de paz e concórdia exige participação activa, empenhada e assumida. Tem de conter a fraternidade a determinar todos os nossos comportamentos.Construamos a felicidade, nossa e dos outros, apelando à cultura da paz, do amor e da alegria, como sempre fazemos no encerramento dos nossos trabalhos. Interiorizemos este apelo, para que sejamos o exemplo que leve à reciprocidade de quem nos rodeia. Tenhamos bem presente que só seremos felizes se aceitarmos contribuir para a felicidade de todos.Que a paz e a concórdia sejam o norte das nossas vidas.

Novembro/2003

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