domingo, 13 de fevereiro de 2011

Voluntariado ou Trabalho sem Remuneração?

Estamos no Ano Europeu do Voluntariado e por toda a parte se vêem apelos para que as pessoas se disponibilizem a participar em instituições que integram voluntários, ouvindo-se elogios desmedidos a este tipo de participação social.

No entanto, não se tem visto uma preocupação clara de definição de voluntariado, quase parecendo que tudo aquilo que se faz sem remuneração é trabalho voluntário. Importa, portanto, clarificar os campos, separando aquilo em que, legitimamente, se pode falar de voluntariado genuíno, daquilo que mais não é do que preencher postos de trabalho com mão de obra gratuita. É que, na verdade, estamos a assistir ao florescimento de iniciativas em instituições que ocupam voluntários com actividades de natureza profissional, cujos lugares deveriam ser ocupados por pessoas desempregadas, pois trata-se de trabalhos inseridos no processo natural da actividade desenvolvida pela instituição. Neste caso, os voluntários estão a ocupar postos de trabalho que deveriam estar preenchidos por empregados, configurando uma situação censurável do ponto de vista social já que contribui para o desemprego.

Tal situação está a ser utilizada, inclusivamente, por entidades públicas que utilizam os voluntários para execução de trabalhos englobados na sua actividade, promovendo o crescimento do desemprego já que não têm necessidade de recrutar trabalhadores, pois as funções estão a ser asseguradas por voluntários.

Este tipo de exercício de actividade, falsamente denominado de voluntariado, recorre muitas vezes a jovens à procura de emprego, criando-lhes a expectativa de poderem vir a integrar os quadros da instituição, utilizando esses jovens em exercício de funções sem encargos de remuneração e colocando-os em situação deprimente já que trabalham, têm despesas mas não têm salário.
Por conseguinte, devemos ter consciência de que nem todas as iniciativas que se vêm apregoando de apelo ao voluntariado podem ser consideradas louváveis. O verdadeiro voluntário exerce a sua acção sem prejuízo seja para quem for, de forma altruísta e desinteressada, não podendo impedir que um desempregado aceda a um posto de trabalho porque já há um voluntário a exercer as funções inerentes a esse posto de trabalho.
Ser voluntário não é só ter uma ocupação que preencha os seus tempos livres. É, também, uma pessoa que se preocupa com as consequências da sua predisposição para ajudar, não devendo fazer seja o que for que possa ter prejuízo para outrem. Ser voluntário é uma pessoa que aceita "dar de si sem pensar em si" (lema da organização "Rotary International"). Ser voluntário é alguém que coloca a preocupação em ajudar os seus semelhantes acima da necessidade de preencher o vazio dos seus tempos livres.

Lamentavelmente, algumas entidades estão a aproveitar os voluntários para reduzir os seus encargos com o recrutamento de trabalhadores que exerceriam as mesmas tarefas. Numa época em que o desemprego é uma chaga social que nos deve fazer sentir profundamente constrangidos, temos a obrigação de não pactuar com tais atitudes oportunistas.