terça-feira, 20 de maio de 2008

Supressão/Atenuação-Assimetrias e Desigualdades

Supressão ou Atenuação das Assimetrias e Desigualdades

É de saudar a iniciativa dos Governadores dos Distritos 1960 e 1970 de colocar à discussão no movimento rotário o tema em epígrafe.Em primeiro lugar, pela assumpção de que o objectivo subjacente ao tema tem pleno cabimento no ideal e na prática rotária, sem melindres pela componente política associada. Por outro lado, pelo exemplo que é dado aos clubes rotários da extensão que pode ter a sua acção, indo além da faceta redutora do carácter caritativo e assistencial com que, muitas vezes, é conotado o movimento rotário.É bom recordar a definição de Rotary, aprovada pelo Conselho Director de Rotary Internacional em 1976;“Rotary é uma organização de líderes de negócios e profissionais, unidos no mundo inteiro, que prestam serviços humanitários, fomentam um elevado padrão de ética em todas as profissões e ajudam a estabelecer a paz e a boa vontade no mundo”.A consecução deste objectivo tem sido feita, além de muitas outras acções, pelos programas regulares de Rotary Internacional integrados nas actividades de desenvolvimento humano, desenvolvimento comunitário, de protecção do meio ambiente e de parceria no servir. Exemplos destas actividades são os programas de combate à pobreza, ao uso de drogas e álcool, de alfabetização, de erradicação da poliomielite, da saúde fome e humanidade, etc..., etc...,etc...E como é que os rotários podem contribuir para a paz e compreensão entre os povos, para o combate ao analfabetismo, à fome , à pobreza e à doença, se não actuarem na supressão ou atenuação das assimetrias e desigualdades ?Pois bem, companheiros: É como nos é proposto que façamos. Analisando as causas e consequências e propondo as correcções necessárias.O aliciante do tema certamente fará com que muitos rotários contribuam com as suas comunicações qualificadas, em várias vertentes.Esta minha contribuição pretende, apenas, dar um contributo em duas das vertentes do tema. Por um lado, na pertinência de os rotários sobre ele se debruçarem, tal como atrás é exposto. Por outro lado, enfatizando a educação para a cidadania como elemento chave para a resolução de questões deste tipo.Costumo dizer que a forma melhor de atacar um problema é evitar que ele exista. E assim, a melhor forma de suprimir ou atenuar as assimetrias e desigualdades sociais é evitar que elas existam. Parece a verdade do “Sr. de la Palisse” mas, infelizmente, assistimos ao seu esquecimento frequente, mesmo em responsáveis ao mais alto nível.Pegando em exemplo recente na sociedade portuguesa, não é que para lidar com os atrasos nos tribunais se vão atropelar garantias de defesa, criar mais juízes, mais oficiais de diligências, mais tribunais e mais prisões? E porque é que não se priveligia a diminuição da criminalidade com um esforço claro na educação para a cidadania?E porque é que se diminui a carga de humanidades nos programas curriculares do sistema educativo, substituindo-as pelas tecnologias? Mas, afinal, o que é que queremos dos estudantes, dos nossos filhos e netos? Melhores pessoas que agentes produtivos, ou melhores agentes produtivos que pessoas?Meus caros companheiros: Sem uma boa formação humanista nunca conseguiremos ter uma boa prática de solidariedade, de tolerância, de civismo, e de todo um conjunto de valores tão caros ao movimento rotário. Sem uma boa formação humanista nunca conseguiremos suprimir ou atenuar as assimetrias e desigualdades.E para quando a garantia concreta da aplicabilidade do preceituado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pelas Nações Unidas há mais 50 anos? Os direitos à saúde, à habitação, ao emprego, à educação, à liberdade, à dignidade, etc..., estão lá expressos como inalienáveis. Quanto mais tempo temos de esperar pela sua consagração prática? Como poderemos querer suprimir ou atenuar as desigualdades sem garantir emprego, saúde, habitação, educação, etc... a todos os cidadãos?E será que dirigentes formados sem uma componente humanista influente poderão, no exercício das suas funções, ser sensíveis a todo este conjunto de valores? Ou serão fortemente influenciados pelas correntes do individualismo, do salve-se quem puder? Esquecem-se que se parte da sociedade for marginalizada terá comportamentos anti-sociais, que se manifestam na delinquência, no vandalismo, no oportunismo, na vadiagem, etc.., etc..., etc... . E depois queixam-se dos assaltos, das falsas baixas médicas, das fraudes nos acessos aos benefícios sociais, dos arrumadores, e de todo um rol de males que, infelizmente, conhecemos.É certo que esses dirigentes formados sem uma componente humanista influente são, eles próprios, maus exemplos para a sociedade, já que, no exercício das suas funções, dão campo largo ao compadrio, à corrupção, ao tráfico de interesses e influências, à criação de benesses e privilégios em proveito próprio, à promoção de situações que só agravam as assimetrias e desigualdades, ao arrepio do objectivo que agora nos move.Como disse, tenho a convicção de que muitos outros aspectos vão ser exaustivamente abordados por companheiros que, certamente, vão corresponder ao apelo dos nossos governadores distritais.Quis, apenas, deixar a minha contribuição de que a educação para a cidadania, que passa pelo reforço da componente humanista no sistema educativo e na prática social, contribuirá seguramente para o objectivo em discussão.Os remédios só são necessários enquanto não conseguirmos erradicar as doenças. Mas os rotários têm dado mostras do seu empenho na erradicação de doenças terríveis. Já contribuiram para a erradicação da varíola. Estão a contribuir para a erradicação da poliomielite.Pois continuemos companheiros. É este o melhor caminho.
(Comunicação para o Fórum de Rotary - Distritos 1960 e 1970– Porto 25/03/2000)

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