quinta-feira, 29 de julho de 2021

Facetas das Ditaduras/Democracias

 Vários são os conceitos sobre a caracterização dos regimes ditatoriais, assim como o posicionamento de tais regimes ao longo da história da humanidade. Tais indefinições aplicam-se, também, aos regimes que se identificam como democracias, sendo que as dificuldades de caracterização dos regimes foram, recentemente, devido à Covid19, substancialmente aumentadas.

Aquilo que nas últimas dezenas de anos esteve a contribuir para corroer as bases dos regimes está em crescimento permanente e acelerado.

A intolerância e os sentimentos de ódio e vingança são formas de estar com presença acrescida, de que o comportamento hostil para com opiniões divergentes é um exemplo, assistindo-se a quebras de amizade nas relações sociais apenas por diferenças de posicionamento perante aspetos banais da vida quotidiana. São os medos da doença, as restrições e condicionamentos à liberdade, a obrigatoriedade do uso de máscara, as imposições “ditas” higiénicas, etc…, que acabam por criar grupos de afinidades hostis aos que neles não se integram.

A tendência que se vinha insinuando, insidiosamente, nas últimas dezenas de anos, de aumento da repressão e da punição encontrou, com o argumento da Covid19, espaço para se impor, com o apoio duma base alargada de cidadãos medrosos e cobardes (o medo e a cobardia aparecem, quase sempre, associados). São as multas, as coimas e as penas de prisão que se assumiram como elementos condicionadores da liberdade e da cidadania.

À boleia da criação dos castigos e punições, proporcionado pela Covid19, assiste-se a uma dinâmica do seu  alargamento para aspetos que já vinham a ter espaço relevante na opinião pública, assistindo-se, por exemplo, a um exagero desmedido na abordagem polémica das relações entre homens e mulheres, de que a criminalização do piropo e o condicionamento da indumentária corporal assumem feições caricatas, não considerando como naturais e saudáveis os mecanismos de sedução inerentes a todas as espécies vivas, desde o olhar às expressões verbais e corporais, quase parecendo que a liberdade de assunção da identidade sexual é um privilégio das correntes lgbtqi+ e que o risco de violação está ao virar da primeira esquina . Por outro lado, instalou-se um fundamentalismo ecológico/ambiental incoerente e contraditório na utilização de bens de consumo, proibindo e penalizando a utilização de certos materiais (ex: sacos de embalagem e transporte de bens), esquecendo o princípio há muito aceite de que, para todo o tipo de materiais, se deve praticar as regras dos 3R (reduzir, reciclar, reutilizar), substituindo-o, levianamente, pelo proibir e punir. Este fundamentalismo assume, por vezes, a defesa de posições primárias e negativas, como seja a rejeição de produtos processados industrialmente em prol dos denominados “biológicos”, quando, muitas vezes, estes são mais nocivos para a saúde e para o ambiente de que os processados industrialmente (ex. pão e enchidos cozidos e fumados em fornos de lenha são mais nocivos do que os cozidos em atmosfera neutra como a gerada por energia elétrica).

Esta cultura, baseada na ignorância e de raiz não democrática, de punir, obrigar, reprimir e condicionar, em vez de informar, sugerir e aconselhar, leva à criação de uma sociedade de autómatos, seres sem consciência e obedientes às ordens do poder instituído, acabando por se traduzir numa sociedade de reduzida participação na construção do interesse coletivo, de que a elevada percentagem de abstencionistas nos atos eleitorais é disso exemplo. Como se podem intitular representantes democráticos os eleitos onde a maioria dos eleitores se abstém? E isto verifica-se não só nas eleições de cariz político-partidário, como nas que decorrem para associações, clubes e organizações não governamentais.

É urgente repensar a vida em sociedade livre, de seres humanos conscientes, tolerantes e fraternos.

É urgente a criação de uma nova ordem política, económica, social e cultural.