terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Natal

NATAL

Na sua mensagem de Natal deste ano de 2011, o Bispo D. Januário Torgal Ferreira chama a nossa atenção para a falsidade em que nos encontramos quando assistimos ao proclamar pretensas situações de vivências acima das possibilidades. Atentemos:
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”O ar festivo desta quadra é sinal de convicções cristãs e dos motivos de quem partilha, connosco, as causas da Humanidade. A defesa dos princípios que regem a dignidade da pessoa compromete-nos no exercício de comportamentos limpos, sem conveniências nem interesses.
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Na linha do pensamento social da Igreja, os frutos do trabalho comum devem ser divididos com equidade e justiça social; também nunca se respirará a tranquilidade enquanto não se experimentar que se é sujeito e não objecto da vida económica, social e política. Tenha-se recato em aludir ao viver acima das possibilidades. Há um mundo de portuguesas e portugueses que nunca as tiveram!
A fraude da cidade burguesa consistiu em não mostrar os pobres (Andrea Riccardi). Aqui e acolá, há pretensões desta ordem. Mas o Natal não vive esse pudor terrível!
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Esta denúncia de D. Januário é a expressão da distância a que ainda nos encontramos do espírito de solidariedade, de fraternidade e de paz que todos desejamos. A celebração do nascimento de Jesus Cristo, que incorpora os mais altos valores humanos, é acompanhada da manifestação de apego a esses valores mas, infelizmente, ainda nos encontramos longe de que sejam usufruto de muitos sectores da sociedade.
Neste ano de 2011 assistimos, até, a um retrocesso civilizacional, afastando uma maior faixa de pessoas da possibilidade de poder beneficiar desse espírito de Natal. A famigerada crise, empurrando mais pessoas para o desemprego, baixando rendimentos dos que ainda têm emprego, impedindo muitos jovens de acederem à educação e ao trabalho, gerando conflitos entre pessoas e aumentando a tristeza e a desolação de quem não sente os benefícios duma melhor qualidade de vida, está a provocar esse retrocesso civilizacional inaceitável, desumano e nada compatível com a celebração natalícia. A agravar este retrato devemos dar uma ênfase particular à situação das crianças que não vão poder viver este Natal com a felicidade que merecem. É que se há alguém a quem o Natal diz muito são as crianças. A dor que sentimos quando defrontamos o olhar triste duma criança não pode ser tapada por qualquer prenda ou ceia de Natal. Como se sentirá uma criança quando ouve dizer que o Natal é a festa da família mas o seu pai ou a sua mãe estarão ausentes? Só de pensar nisto sinto uma angústia no peito.
Se desejamos ser consequentes com os valores de solidariedade, de fraternidade e de paz, temos de nos comportar na sociedade em coerência com tal. Temos de ser menos conflituosos, mais generosos, menos egoístas, mais magnânimos. Devemos cultivar o perdão e não a vingança. Devemos ser mais condescendentes e menos impiedosos. Devemos praticar a dádiva desinteressada, a compreensão alargada, o sentir que o nosso eu se prolonga nos outros.
O Natal tem de ser uma celebração de Amor. Só assim é verdadeiramente cristão.
Feliz Natal!