domingo, 24 de abril de 2016

Viva o 25 de Abril !

Há cerca de três séculos Johann Goethe, autor alemão, proclamou que “ Só é digno da liberdade, como da vida, aquele que se empenha em conquistá-la”.

Na passagem do 42 º aniversário da data em que o povo português se empenhou em conquistar a liberdade, palavra muito cara a todos os cidadãos, cumpre-nos hoje dar testemunho do nosso envolvimento afectivo com tal comemoração. Não só no plano simbólico mas, também, no nosso empenhamento em dar continuidade a tal conquista, tendo em conta  que a liberdade de quem quer tê-la convive, hoje, com o medo de deixar de vir a tê-la ou, até, de a estar perder paulatinamente.

Ora, o medo não é bom acompanhante, pois só é livre quem não tem medo. O medo de perder a liberdade de reunião, de associação, de pensamento e de circulação, tem de dar lugar à coragem para a sua defesa. E temos de associar à liberdade, a igualdade e a fraternidade, valores que corporizam a essência da dignidade reconhecida a todos os cidadãos.

No dia de hoje, importa averiguar se a dignidade se encontra ameaçada com os maus exemplos da nova escravatura dos baixos salários e da precariedade, das guerras disseminadas com execuções extrajudiciais comandadas à distância, dos refugiados que nos batem à porta, das chagas do desemprego da miséria e dos sem-abrigo , das crianças e dos jovens maltratados e sem esperança, das relações afetivas instáveis e conflituosas, dos presos a quem é negada o perdão e a misericórdia, da nova roupagem da tirania. E importa averiguar se podemos festejar a liberdade com tais atropelos à dignidade ou se estamos dominados pela cegueira como Shakespeare retratou na seguinte reflexão: “Que tempo terrível este em que os idiotas dirigem os cegos.”

Chegou há dias ao meu conhecimento que a nota de 20 dólares americanos vai passar a ter a fotografia da rebelde negra, libertadora de escravos, Harriet Tubman. Também ela teve dificuldades em lutar contra a escravatura, mas Tubman nunca deixou nenhuma das centenas de pessoas que libertou para trás, e nunca ninguém morreu sob a sua vigilância. “Podia ter libertado mais” garantia ela, “se os tivesse conseguido convencer que eram escravos”.  A luta pela sobrevivência adia o querer de revolta dos escravos.

A sociedade tem pergaminhos onde consta a sua luta contra estes males, pelo que temos de convencer os novos escravos da sua condição, libertando-os desta escravatura moderna. Neste sentido, exorto todos os cidadãos a reflectiram sobre o como podem levantar bem alto o seu grito de liberdade sem se envergonharem dos muitos infelizes com que tropeçamos nas ruas.

Voltaire, o grande filósofo das luzes, foi bem claro quando disse que “o homem que é livre deve governar-se mas se tem tiranos deve destroná-los”. Os verdadeiros cidadãos não podem ter para com esta nova tirania económico-financeira onde medram ladrões legalizados, vaidosos sem ética e sem vergonha, nem para com os novos tiranos e seus sequazes, o comportamento que Zeca Afonso, o trovador de Abril, denunciou na sua canção dos Eunucos:

Em vénias malabares à luz do dia
Lambuzam da saliva os maiorais
E quando os mais são feitos em fatias
Não matam os tiranos, pedem mais.


Viva o 25 de Abril !