terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O Domínio do Establishment

O Domínio do Establishment

Vivemos uma época dominada por poderes que rejeitam e reprimem qualquer sinal de mudança no modelo de sociedade vigente. O poder político, através dos partidos políticos, e o poder económico-financeiro, através das suas instituições, infiltrados por poderosos grupos de interesses de que o lobby LGBTI é um exemplo, receiam que qualquer alteração significativa da ordem político-social possa por em causa os seus interesses e privilégios. Como têm conseguido impor e alargar a sua hegemonia na liderança mundial, torna-se quase impossível esperar qualquer mudança nas linhas directrizes que governam o mundo. O actual establishment (ordem ideológica, económica e política que constitui uma sociedade ou um Estado) está implantado solidamente.
-
Vários exemplos podem ser apontados como corroborando esta constatação, todos eles bem evidentes e assumidos, sem rebuço, por responsáveis ao mais alto nível, não havendo já o pudor de os tentar encobrir. O apoio inesgotável, ilimitado e permanente ao sector financeiro, a diabolização, descrédito e sabotagem de iniciativas que não se insiram na estratégia dos poderes instituídos, a sedução e corrupção de líderes emergentes imbuídos de ideais políticos denominados de “radicais”, o desencadear de guerras locais para impor poderes “amigos”, a implementação de políticas repressivas com vista a impedir o surgimento de dinâmicas alternativas ao status-quo, com mais polícias, mais leis punitivas, mais intimidação, etc…, são formas usadas para o establishment impor a sua força.
-
Por outro lado nota-se a ausência de procura de soluções profundas para problemas sociais, já que a manutenção destes problemas ocupa as pessoas que os sofrem e não as liberta para questionar o modelo. O acentuar da pobreza, resvalando para a escravatura (mais de 600.000 famílias portuguesas estão em incumprimento por dívidas), reforça a imobilização dos pobres para se envolverem politicamente na mudança da sua situação, já que quem está na indigência esgota-se a sobreviver. O impasse na solução para o negócio da dependência da droga, e o reforço da sua repressão (cerca de 80% dos reclusos cumprem pena por ligação, direta ou indireta, à droga), parece um propósito desejado já que obriga a quem está inserido no seu circuito se ocupe só do “jogo do gato e do rato”, ficando sem tempo e disponibilidade para outras preocupações. As crianças vivem ao sabor das experiências sucessivas das novas famílias e dos modelos educativos, que têm muito mais em conta os interesses dos pais e dos professores do que o superior interesse das crianças como seres portadores de direitos (mais de 70.000 crianças encontram-se anualmente em sinalização nas Comissões de Proteção de Crianças e Jovens). Os conflitos familiares crescem em catadupa (o número de divórcios e de casos de violência doméstica aumenta constantemente), traduzindo uma sociedade de inimizade onde o ódio e a violência marcam presença. A comunidade, em geral, faz questão de ignorar a desumanidade patente nas prisões como instituições medievais, arcaicas e indignas dos padrões civilizacionais que se esperariam no século XXI, utilizando o trabalho dos presos como mão de obra escrava com pagamento de poucos cêntimos por hora pela produção de bens que são vendidos no mercado (Portugal (Portugal é dos países da Europa Ocidental com maior taxa de reclusos em cumprimento de pena – 140 reclusos por 100.000 habitantes, num total de mais de 14.200 reclusos). A maioria dos poucos que se preocupam com estes antros de tortura e maus tratos não anseia mais do que dar uma migalha a quem precisa de muito pão, exultando, até, com esse miserável contributo.
-
A mesma comunidade, que, em grande parte, se reclama de católica, ouve, mas não pratica, a exortação do Papa Francisco para uma postura ativa de perdão e misericórdia, preferindo a vingança e a indiferença para com os seus semelhantes.
E, assim, o establishment vai-se consolidando, autodenominando-se de democrático e diabolizando quaisquer iniciativas que o possam pôr em causa. As eleições vão surgindo mas os pretendentes ao poder não fogem das linhas gerais do mesmo modelo, não sendo de estranhar a elevada abstenção. Para reforçar as suas bases de sustentação, aceita-se o aumento de conflitualidade pessoal na sociedade (as pessoas ocupam-se com os seus conflitos pessoais), incrementam-se as diversões que desviam as pessoas do escrutínio do poder (futebol, telenovelas, concursos e sorteios televisivos, reality shows como a “Quinta”, etc…, ocupam os primeiros lugares das audiências), institui-se a repressão e o medo e faz-se tábua rasa dos referenciais internacionais de direitos humanos. As ONGs, que até há pouco tempo exerciam um papel de denúncia e contrapoder, foram tomadas por dentro e são, hoje, instrumentos de sustentação do modelo político-económico-social vigente, conseguindo, ainda, beneficiar do capital de prestígio e honorabilidade alcançado no passado. O progresso verificado ao longo da história tem tido, nos tempos recentes, uma injusta e desigual repartição, com um aumento escandaloso do fosso entre os pobres e os ricos.   
-
Assiste-se, por parte do establishment, a uma demagógica denúncia dos problemas sociais, tais como o crescimento da pobreza e da conflitualidade, do desemprego, do surgimento da escravatura moderna, do sofrimento, da precariedade das condições de vida, sem que se vislumbre uma procura genuína duma estratégia que vá além dalgumas acções pífias de pretensos contributos de solução, mas com grandes coberturas mediáticas como propaganda balofa. Para os interesses instituídos convém não produzir grandes alterações no actual modelo de sociedade.
-
Longe vão os tempos da esperança em dias melhores para a esmagadora maioria das pessoas. Enquanto os detentores dos diferentes poderes se entretêm em se sustentarem no poleiro, cada vez mais enriquecido, os seus súbditos vegetam na procura da sobrevivência, até ao dia em que se assista a uma convulsão que não será pacífica. Mas não antevejo quando chegará esse dia. Não vendo grande probabilidade nesta convulsão social, até porque os poderes instituídos têm refinado a máquina repressiva e dissuasora, só outras duas hipóteses poderão mudar o quadro existente, ainda que utópicas: uma catástrofe astronómica (há milhões de anos que o equilíbrio interplanetário se mantém praticamente inalterável, nomeadamente no que respeita ao planeta Terra) e o colapso do sistema informático de que depende toda a organização da sociedade (através, por exemplo, dum vírus informático que apague todos os ficheiros e ultrapasse todos os antivírus). Mas qualquer destas três hipóteses só o são teoricamente, não se vendo, no horizonte, a possibilidade da sua concretização.
-
Pressentindo que o establishment vai incrementar a imposição da sua força, os cidadãos são chamados para a defesa dos ideais da liberdade, da igualdade e da fraternidade que vivem dias sombrios. Temos de adaptar o lema ecológico, de reduzir, reutilizar e reciclar as coisas, para valores humanistas: Reduzir o ódio e a vingança, Reciclar o perdão e a caridade, Reutilizar a capacidade de amar.