É madrugada de Sábado, 18 de Agosto de 2018, e o
arraial da Romaria da Sra. d’Agonia em Viana do Castelo ainda tem foliões,
depois de vivido o primeiro dia das festas deste ano. Participei em vários dos
seus eventos e, mais uma vez, se confirmou que esta romaria não tem igual. Pela
sua dimensão religiosa e profana, nas mais variadas vertentes culturais e
recreativas, com as suas procissões, concertos com bandas e filarmónicas,
espectáculos folclóricos, gigantones e cabeçudos, bombos e tambores, desfiles e
cortejos, movimentando milhares de figurantes envergando os seus trajes típicos
de cor e alegria. A participação popular é dum carácter genuíno e entusiasta,
com crianças e adultos, novos e velhos, dando-se à festa, de forma espontânea e
desinibida. São milhares e milhares de pessoas que enchem a cidade, as suas
lojas, os seus restaurantes, as suas ruas, denotando uma alegria, um sentido
fraterno e uma jovialidade sem par. E é ver como as suas gentes adotaram,
entusiasticamente, o fado cantado pela Amália Rodrigues, com poema de Pedro
Homem de Melo:
“Havemos de ir a Viana
Entre sombras misteriosas
Em rompendo ao longe estrelas
Trocaremos nossas rosas
Para depois esquecê-las
Em rompendo ao longe estrelas
Trocaremos nossas rosas
Para depois esquecê-las
Se o meu sangue não me engana
Como engana a fantasia
Havemos de ir a Viana
Como engana a fantasia
Havemos de ir a Viana
Ó meu amor de algum dia
Ó meu amor de algum dia
Havemos de ir a Viana
Se o meu sangue não me engana
Havemos de ir a Viana
Ó meu amor de algum dia
Havemos de ir a Viana
Se o meu sangue não me engana
Havemos de ir a Viana
Partamos de flor ao peito
Que o amor é como o vento
Quem pára perde-lhe o jeito
E morre a todo o momento
Que o amor é como o vento
Quem pára perde-lhe o jeito
E morre a todo o momento
Se o meu sangue não me
engana
Como engana a fantasia
Havemos de ir a Viana
Ó meu amor de algum dia”
Como engana a fantasia
Havemos de ir a Viana
Ó meu amor de algum dia”
É de realçar o envolvimento da autarquia no
engrandecimento da romaria. Além da participação na organização, notei um facto
invulgar que foi o de isentar de pagamento o parque de estacionamento do Campo
da Agonia durante todos os dias dos festejos, onde cabem mais de um milhar de
viaturas, quando poderiam arrecadar grossa maquia face à multidão que invade a
cidade. É uma atitude de desprendimento e de bem receber os forasteiros que cai
bem e denota um espírito de servir pouco vulgar nos dias de hoje.
Durante o dia tomou-se conhecimento de que o
governo português proibiu, a partir de hoje, todo e qualquer tipo de fogo de artifício,
alegando eventuais contributos para incêndios florestais, o que afeta parte
importante do programa das festas em Viana do Castelo. Felizmente e rapidamente,
a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Dra. Maria José
Guerreiro, tomou a decisão de antecipar meia hora o fogo previsto para a meia
noite, ultrapassando, sabiamente a decisão do governo, deixando a realização
dos fogos de artifício dos dias seguintes para posterior decisão. Oxalá seja
tomada a decisão de não respeitar uma medida tão desastrada e fundamentalista,
pois quem conhece o tipo de fogos em questão e os locais onde são lançados não
tem quaisquer dúvidas sobre o seu nulo contributo para qualquer incêndio
florestal. Senhora vereadora, coragem!
Uma proibição deste tipo não pode ser respeitada. Estarei consigo na partilha
de todas as consequências que possam advir da sua atitude de desrespeito. São
fundamentalismos estes que desacreditam
os políticos, já que optam por medidas fáceis e alarmistas, como seja o
proibir, ao invés duma política nacional de dinâmica pedagógica, cívica,
competente e de respeito pela natureza. Mas, para isto, é preciso conhecimento
e autoridade para enfrentar os lobbies das celuloses e do eucalipto, dos
helicópteros e dos aviões. É preciso coragem para enfrentar os SIRESP(s) e
outros interesses instalados. Mas, para tal, temos de ter responsáveis
políticos e operacionais com sabedoria e conhecimento da matéria e não
comissários políticos cuja ignorância custa milhões. Como não se vê coragem,
conhecimento e autoridade, decreta-se o proibir, pois é mais fácil proibir para
quem não sabe ensinar e dirigir. Já que se proibiram os foguetes, proíbam-se os
fósforos, proíbam-se os isqueiros, proíbam-se os beijos ardentes, proíba-se o
sol de nascer e proíbam-se as árvores de arder. Parafraseando Almada Negreiros,
morra a proibição do fogo de artifício, pimba!
Valha-nos Hefesto e Vulcano, deuses grego e
romano do fogo.
Relembrando uma velha máxima anarquista: É
proibido proibir!
Viva Viana do Castelo e as suas festas da Nossa
Senhora d’Agonia!