terça-feira, 20 de maio de 2008

A Cerâmica do Douro e a sua História

A Cerâmica do Douro e a sua história

Capítulo I - A génese
1 - Introdução
O nascimento da Cerâmica do Douro, cuja escritura pública teve lugar a 3 de Abril de 1989, foi fortemente influenciado pela experiência do seu fundador em quatro centros cerâmicos (Vista Alegre, Maia, Caldas da Rainha e Viana do Castelo), assim como pela sua constatação da deslizante agonia em que vivia (e ainda vive) a cerâmica tradicional. Esta agonia, comum, infelizmente, a outras actividades tradicionais portuguesas, era (e ainda é) determinada pelo crescente economicismo vigente no modelo político-económico-social, em que o factor preço se sobrepõe a critérios históricos, culturais e tradicionais, como, também, pela inexistência dum sentir forte de defesa de valores que não os do mero utilitarismo falsamente barato.Estávamos no início do processo de integração de Portugal na, altura denominada, Comunidade Económica Europeia (CEE) com a perspectiva de que vinha perto o "tempo das vacas gordas" e isto poderia criar alguma apetência para outros valores além do utilitarismo.

2 - Opções, Fundamentos e Fecundação
Na concepção do projecto algumas premissas tiveram logo de ser assumidas:
- Suporte matérico dos mais evoluídos técnicamente (porcelana);
- Utilização, o mais possível, de decoração por debaixo do vidrado;
- Modelos e decorações fortemente enraizados na cerâmica tradicional e nos seus valoreshistórico-culturais;
- Decoração totalmente pintada à mão.
A opção por estas premissas deveu-se a:
- O suporte matérico nas peças foi sempre, ao longo do tempo, o melhor de que se dispunha, tendo em conta o conhecimento científico e a disponibilidade de matérias primas. Desde os simples barros, tais quais eram extraídos da natureza, nos primórdios da civilização, passando por barros mais elaborados na idade média e por faianças na idade moderna, até que, no final do século XX, com o domínio técnico existente, qualquer ideia de qualidade na cerâmica doméstica e decorativa tem que utilizar a porcelana como suporte matérico. A porosidade existente na faiança, por ex., além de ter inconvenientes para a saúde quando em utilizações com alimentos, provoca o aparecimento de fendilhado e delimita o seu campo de aplicação a ambientes não muito húmidos nem com grandes amplitudes térmicas, assim como não resiste a grandes solicitações mecânicas. A talhe de foice convém referir que a porcelana é um material cerâmico, como a faiança, o barro cozido, o grés e até o vidro, já que cerâmica é todo o produto que resulta da transformação irreversível de matérias primas naturais por acção de calor.
- A escolha da decoração por debaixo do vidrado, sempre que possível, teve por base o conhecimento, hoje existente, da fragilidade das decorações por cima do vidrado, nalgumas situações frequentes nos dias de hoje mas inexistentes no passado, como por ex: máquinas de lavar louça, fornos micro-ondas, detergentes e esfregões de alto teor abrasivo, etc, assim como o conhecimento dos inconvenientes existentes para a saúde pelo contacto directo dos produtos alimentares com os óxidos metálicos que compõem as tintas usadas nas decorações. Exceptua-se desta opção as decorações com ouro, já que não existe, ainda, o conhecimento científico que permita cozer, por debaixo do vidrado da porcelana, qualquer tipo de ouro, prata ou platina. Acresce a isto que as decorações por debaixo do vidrado, denominadas de "grande fogo", apresentam uma profundidade de leitura e um esbatimento de limites que as tornam mais atraentes. A utilização do ouro nalgumas decorações insere-se na lógica da tradição, já que o ouro representa, no final do século XX, um valor cultural alargado e não só de elites como nos séculos passados. No entanto, já no passado se verificaram aplicações de ouro o que mostra interesse na sua utilização, mas o pouco conhecimento científico não permitia a sua utilização com a qualidade e resistência que hoje se verifica.
- O enveredar pelo caminho da cerâmica tradicional tem a ver com o sentir de que as tradições são património que não deve ser desperdiçado ou menosprezado. Antes pelo contrário, é dever de todos honrar o legado dos antepassados e, neste campo, Portugal e, particularmente, a região Porto-Gaia, com as suas mais de duas dezenas de fábricas, sem contar com as fábricas de cerâmica de construção, sómente nos séculos XVIII e XIX, herdaram um valioso património cerâmico, com uma forte carga histórico-cultural que será “criminoso” olvidar e não lhe dar continuidade.
- A escolha da pintura completamente à mão de todas as peças teve em vista, por um lado, a valorização individual das peças e por outro a formação de recursos humanos de elevada qualificação, que é um imperativo para quem, neste final do século XX, pretende ser mais do que um elo numa cadeia despersonalizada.Estas opções resultaram das trocas de impressões com o amigo e companheiro, Professor Escultor Laureano Ribatua, quando fazíamos as viagens conjuntas para dar apoio à Louça Regional de Viana do Castelo, e cuja dedicação à Cerâmica do Douro tem sido essencial para esta caminhada, tornando-o credor de respeito, simpatia e amizade que todos na Cerâmica do Douro sempre lhe dedicaram.
O arranque foi feito com as singularidades e características próprias. Definidos os integrantes do pacto social da Cerâmica do Douro, este seu fundador (com o apoio de sua mulher D.Maria de Lurdes) e a sua filha Drª. Ana Cristina Novais Almeida dos Santos Sousa, houve que traçar o quadro humano de partida, já que as opções de produto estavam feitas. Para a área fabril de olaria e pintura foi feito o desafio a uma, na altura, promissora aprendiz de pintura de Viana do Castelo, D. Glória Felgueiras. Desafio aceite, créditos confirmados, pilar construído. Para o gesso, e com a ajuda do amigo e colega Vaz dos Santos, foi integrado, inicialmente em part-time, o modelador Sr. Domingos Gouveia. Para a recolha e criação de modelos e decorações contamos com a preciosa colaboração da Sra. Professora Escultora Gabriela Couto. Estava definido o quadro de partida.Paralelamente, foi-se desenvolvendo o suporte económico-financeiro e escolha das infraestruturas produtivas. Enquanto este último aspecto foi facilmente enquadrável, o apoio externo económico-financeiro foi difícil, dificuldade esta que se tem reflectido até aos dias de hoje.Não sendo a cerâmica tradicional um sector gerador de mais valias financeiras rápidas e volumosas, adivinha-se quantas portas se fecharam no apoio à concretização do projecto. Desde a banca privada a investidores particulares, numerosas foram as dúvidas à mera hipótese da ideia nascer, quanto mais de ela viver, por pouco tempo que fosse. Ou porque a tradição estava morta e a cultura não vende, ou porque o mercado só aceitava estes produtos desde que fossem baratos, etc, etc, etc..., o projecto só obteve apoio das seguintes portas a quem se bateu:- Instituto de Emprego e Formação Profissional (D. Maria Amélia Traça, Dr. Abílio Rocha e Dr.João Marques).- Secretário de Estado de Emprego e Formação Profissional (Dr. Bagão Félix).- Caixa Geral de Depósitos (Dr. João Taborda, Dr. Pereira da Silva e Dr. Bessa Monteiro).- Sr. Jorge Araújo (Aniporto).- Dr. António Vilar (Fórum Portucalense).- Câmara Municipal de V.N.Gaia (Sr. Presidente Heitor Carvalheiras e Dr. Barbosa da Costa)- IAPMEI (Engº Silva Pinto)Estando encontrado o apoio suficiente para o arranque, constituiu-se a sociedade. Dois sócios, como atrás é referido, com o capital social de 12.000.000$00, com metade realizado em situação precária (Que o diga a D. Fernanda Ribeiro e a D. Manuela Coutinho a quem a Cerâmica do Douro muito deve), mas ainda sem instalações, equipamentos ou mostruário. Só uma ideia, numa sociedade juridicamente constituída e um conjunto de pessoas empenhadas em empurrar o “barco”.A talhe de foice fica um aspecto curioso de como o nome “Cerâmica do Douro” apareceu. Como o fundador da empresa tinha sido co-fundador das “Porcelanas da Maia”, pensou, inicialmente, usar a denominação “Porcelanas do Douro”. Porcelanas por ser a pasta de cerâmica a ser utilizada e Douro por ser o berço da região Porto-Gaia onde se ia buscar a identidade tradicional. Trocando impressões com o amigo Dr. Morais Cabral, na altura director do Crédito Predial Português, um conhecedor da matéria, foi por este sugerido que o nome Porcelanas do Douro era demasiado técnico e pouco abrangente, tendo em conta os aspectos culturais e tradicionais a abarcar, até porque, no passado, a cerâmica tradicional era em faiança por não se saber fabricar porcelana. Por conseguinte, ainda que o produto a fabricar fosse em porcelana, a designação “Cerâmica do Douro” corresponderia melhor aos objectivos. E aqui está!

3 - A Nascença
Fecundada a ideia, tendo pais, padrinhos, nome e até algum futuro já delineado, houve que arranjar berço, roupas, alimentos e as condições necessárias para não morrer à nascença ou nos primeiros tempos de vida.As instalações, que constituiram o berço, foram encontradas no aproveitamento duma pequena fábrica de confecções que se transferiu para outra zona. Com uma dimensão adequada ao arranque do perfil duma fábrica-atelier, foi utilizada a partir de Janeiro de 1990.Os equipamentos (as roupas) foram seleccionados tendo em conta o objectivo definido. porcelana de alta qualidade pintada à mão, sem recurso a processos de produção intensiva. Assim sendo, quer as máquinas de preparação da pasta, quer os fornos e outros equipamentos, tiveram de responder a esses requisitos.Os recursos humanos e de natureza financeira (os alimentos), tiveram, necessariamente, tratamento diferenciado. Os recursos humanos, além do já referido relativamente aqueles que foram o motor de arranque, tiveram o seu suporte, nos anos iniciais, nos apoios do programa IJOVIP do Instituto de Emprego e Formação Profissional, vindo, posteriormente, a serem seleccionados caso a caso por contratação directa. Têm sido o melhor e o mais generoso capital.Os recursos financeiros, para o financiamento do investimento, foram conseguidos através de empréstimos do Instituto de Emprego e Formação Profissional e da Caixa Geral de Depósitos. É de relevar a resposta positiva destas entidades, o que demonstra a sua crença na aposta em projectos com componente de risco, inaceitável por aqueles que só se interessam pela rentabilidade segura dos capitais.Mais tarde, foi o capital social aumentado com a entrada da empresa Norgrupo. No entanto, esta associação não resultou, pelo que a Norgrupo saiu, vendendo a sua posição de capital, seis meses depois.Após a nascença, houve que prover ao desenvolvimento. É o que a seguir se verá.

Capítulo II - As raízes histórico-culturais
Perde-se na origem dos tempos o primeiro contacto entre o Homem e aquilo que hoje se designa por “Cerâmica”.A própria definição do que é um produto cerâmico (tudo o que resulta da transformação irreversível de matérias-primas naturais por acção do calor) evidencia, desde logo, que os elementos necessários à obtenção duma peça de cerâmica, como sejam os minerais e o fogo, coexistem com o Homem desde o seu aparecimento à face da Terra. Não é por acaso que em qualquer escavação arqueológica aparecem sempre fragmentos de peças cerâmicas, independentemente da época dos achados.Começaram por ser simples barros, tais quais se encontram na Natureza. O conhecimento das propriedades diferenciadas dos diversos barros fez evoluir o suporte matérico para uma mistura de barros, possibilitando a obtenção de peças com uma maior variedade de formas e de sentido estético. Nos séculos mais recentes, o conhecimento cientifico possibilitou um salto enorme na qualidade dos pro­dutos cerâmicos, já que da mistura de barros se saltou para a faiança, para o grés e para a porcelana. A par da evolução das formas foi-se, também, aprimorando o aspecto cromático. Aquilo que na Antiguidade eram desenhos simples, possibilitados pelo conhecimento técnico escasso, tornou-se hoje no principal elemento influenciador quando se aprecia uma peça cerâmica: a decoração. Constituídos, essencialmente, por óxidos metálicos, existentes nos minerais, as tintas e corantes, de que dispomos neste final do século XX, possibilitam já a obtenção de quase todo o espectro cromatológico, dando a uma peça cerâmica a beleza resultante da fusão dos seus dois elementos consti­tuintes: forma e decoração.Aquilo que no passado tinha uma função exclusivamente utilitária tem hoje um espaço que cobre praticamente todas as actividades humanas.Em Portugal, a tradição cerâmica encontra-se profundamente enraizada no passado. Os seus valores culturais, nas sua formas e decorações, encontram-se expressos nas peças produzidas nomeadamente nos séculos XVIII e XIX. Certo é que se tem assistido a um esbatimento da noção dessa importância, pelo que se exige o reavivar na memória colectiva dum património cuja preservação importa cultivar. Não o reavivar pela simples cópia, mas sim com o respeito pelos valores essenciais acrescidos dos novos valo­res que a todo o momento se vão impondo. A cultura não é só museológica, mas sim passado e presente.A região Porto - Gaia foi, até meados deste século, tradicionalmente rica em cerâmica doméstica e decorativa, tendo sido o rio Douro um importante apoio ao seu desenvolvimento.Bastará lembrar as fábricas de Massarelos, Miragaia, Cavaquinho, Santo António de Vale da Piedade, Devezas, etc......, que desde o século XVIII mantiveram lugar destacado e cimeiro na cerâmica decorativa portuguesa.Infelizmente, nenhuma destas unidades fabris sobreviveu, deixando em risco de extinção uma actividade de características culturais bem marcantes e enraizadas nas tradições e história desta região. A sua relevância mereceu a atenção de muitos estudiosos, de que o trabalho de Pedro Vitorino “Cerâmica Portuense”, publicado em 1930, merece particular destaque. Infelizmente, depois de 1930, raros são os trabalhos sistemáticos sobre a cerâmica desta região, sendo, todavia, de destacar algumas contribuições particulares que têm sido publicadas e que serão de grande utilidade para o estudo exaustivo deste sector de actividade.No entanto, a grande expressão, deixada sob diversos valores, permite dar continuidade a esta tradição, já que os valores estéticos subjacentes ao sector da cerâmica doméstica e decorativa (forma e decoração) são bem claros naquilo que se pode chamar valores identificativos: formas simples e funcionais decoradas com motivos expressivos que coabitam com grandes espaços nus.Importa, agora, reavivar na memória colectiva a noção da importância da cerâmica no contexto da região e do País. É que ainda há cem anos este sector de actividade, com mais de vinte fábricas de média e grande dimensão, representava a região como a mais importante do país.Em cem anos, não só se perdeu a noção da importância deste sector de actividade, com as suas características de marcado cunho histórico-cultural, a que artistas tão bem conhecidos como Teixeira Lopes e Soares dos Reis deram uma profunda colaboração, como se esbateu e quase desapareceu a continuidade duma tradição, mesmo na componente humana indispensável á sua continuação.A iniciativa agora existente, corporizada na “Cerâmica do Douro”, contem valores necessários ao reavivar das tradições cerâmicas da região.O cuidado na fidelidade à continuidade, pelo que pressupõe de actualização, tendo em conta os novos conhecimentos tecnológicos e a consideração dos valores culturais como dinâmicos, garante que, se a comunidade assumir as responsabilidades de apoio e acarinhamento, poderemos voltar a contar com uma riqueza de que a região se orgulha.

Capítulo III - A Cerâmica do Douro na Comunidade
1 - A sensibilização
Pode-se dizer que a inserção na comunidade está condicionada pela sensibilidade desta aos valores já referidos, assim como ao carácter efémero ou perene dessa sensibilidade.A afirmação não tem sido fácil, pois que a famigerada globalização tem imposto modelos de comportamento, social, cultural e económico, que dificultam tudo aquilo que se afasta da padronização dominante.Enquanto se assiste a um permanente incentivo à continuação do objectivo de dar continuidade à cerâmica tradicional, depara-se com dificuldades semelhantes às de qualquer outra actividade económica quando se necessita do apoio para essa continuidade. Nas relações comerciais com entidades públicas, com Bancos e com clientes é difícil fazer sobressair o carácter específico do trabalho de recuperação da cerâmica tradicional. Disto se tem ressentido a evolução neste dez anos, o que prognostica um futuro de continuado esforço.É, todavia, grato contar com um conjunto de pessoas a quem essa globalização não retirou a sua capacidade própria de apreciação. E pode-se mesmo dizer que todos aqueles com quem é possível criar intimidade com os valores tradicionais ficam ganhos para nadar contra a corrente.
2 - Os Trabalhos Relevantes
O lançamento das diferentes linhas e colecções teve a seguinte evolução cronológica:
- 1989 - Ensaios de pastas, vidrados e cores.Início da recolha museológica de formas e decorações
- 1990 - Lançamento da linha museológicaInício da produção.
- 1991 - Lançamento da linha de azulejaria
- 1992 - Lançamento da linha decorativa (modelo original)
- 1993 - Lançamento da peça comemorativa dos 450 anos da chegada dos portugueses ao Japão.- Produção do pavimento e painéis para Bristol
- 1994 - Lançamento da linha utilitária (modelo Gabriela)
- 1995 - Lançamento da colecção “Brasões de Famílias Portuguesas do século XIV”- Lançamento da colecção “Casa do Infante”
- 1996 - Lançamento da linha “Linguagem Gestual”- Lançamento da linha de esculturas
- 1997 - Lançamento da colecção “Ateneu Comercial do Porto”
- 1998 - Lançamento da colecção “Portugal/98 - 500 Anos de Descobrimentos”
- 1999 - Lançamento da colecção “Reflexos do Tempo”

Todas estas colecções nasceram a partir de propósitos definidos, em que se destaca:

- Linha Museológica
Trata-se de afirmar a ligação clara à continuidade da cerâmica tradicional. As réplicas das peças produzidas nos séculos passados contêm os valores essenciais (Forma e decoração) das originais, introduzindo os novos valores que o conhecimento científico proporciona (pasta de porcelana, vidrados e pigmentos de côr mais refinados, utilização do ouro com qualidade). Não se procurou a cópia pela cópia, já que tal é condenável e técnicamente desprestigiante, nem a imitação grosseira que até os defeitos copia. Recuperaram-se os valores histórico-culturais, actualizando-os com os conhecimentos técnicos e artísticos que hoje dispomos.O ressurgir da cerâmica tradicional tinha de ser feito “por cima”, isto é , a sua importância exige o melhor em todos os domínios e não qualquer coisa ao preço mais baixo possível.- Linha de azulejariaTambém aqui se procurou recuperar a azulejaria como revestimento decorativo, com a mesma orientação da linha museológica. Ao produzirmos azulejos em pasta de porcelana, valoriza-se não só a resistência mecânica e térmica do material, fazendo com que resista completamente aos ambientes húmidos, de grande amplitude térmica e sujeitos a choques mecânicos, como, também, se valoriza a estética dos elementos decorativos, já que a luminosidade, profundidade e sentido atractivo são fortemente reforçados quando se utiliza a porcelana com pintura de grande fogo.

- Linha decorativa (modelo original)
Criada com o propósito de cobrir uma gama de produtos e um sector de mercado mais alargado.Iniciou-se com a criação de 20 novas peças e 3 novas decorações (Douro, Aldoar e Grijó) a que se seguiu a decoração Gaia.A decoração Douro, cujo nome vem do rio Douro, tem como motivo central a ponte de D.Maria I no Porto. A decoração Aldoar (nome de freguesia com focos rurais, no Porto), está ligada ao espigueiro do Soajo. A decoração Grijó (nome da freguesia de V.N.Gaia onde se encontra o Mosteiro de Grijó) apoia-se na temática religiosa das alminhas.A decoração Gaia centra-se no Mosteiro da Serra do Pilar em V.N.Gaia. Nesta decoração as cores azul e verde simbolizam a ligação da cidade ao rio e ao mar. As fitas aerodinâmicas simbolizam o dinamismo da cidade onde estão sediadas as caves do vinho do Porto. O ouro simboliza a modernidade da maior parte da cidade.

- Peça comemorativa da chegada dos portugueses ao Japão
Tendo-se comemorado em 1993 os 450 anos da chegada dos portugueses ao Japão, a Kirin Culture Club, entidade cultural ligada ao maior grupo cervejeiro japonês, decidiu editar uma caneca comemorativa que contivesse os valores da cerâmica tradicional portuguesa. Depois de mais de um ano de estudo, que envolveu o envio da vários livros de cerâmica portuguesa para o Japão, que foram traduzidos e estudados pelos historiadores que fazem a assessoria do grupo, com visitas dos responsáveis japoneses a Portugal e da Cerâmica do Douro ao Japão, acertaram-se todos os pormenores da caneca e da sua edição em série limitada de 450 peças. Esta peça foi qualificada como a representante da “Colecção Mediterrâneo” das edições efectuadas pelo clube, e foi totalmente subscrita no 1º mailing.De notar que a inscrição existente no medalhão foi uma curiosidade observada pelos historiadores japoneses, que constataram que os portugueses foram os primeiros ceramistas a utilizarem os medalhões das peças para transmitirem mensagens que não o simples nome do proprietário. Por exemplo, “Haja Saúde”, “Não Há Fiados”, “Venha em Paz Quem Vier Por Bem”, etc... . A mensagem era encomendada pelo cliente e por isso a Kirin Culture Club quis uma mensagem alusiva ao produto comercializado pela Kirin, a cerveja. A mensagem foi:SAÚDECOM CERVEJAA separação da palavra cerveja tem, propositadamente, um erro, já que os historiadores japoneses repararam que foram comuns, no passado, erros semelhantes, pois que sendo analfabetos muitos artesãos, estes separavam as palavras quando acabava o espaço sem preocupação de rigor de escrita.

- Linha utilitária (Modelo Gabriela)
Dentro do espírito de manter o propósito de dar continuidade à cerâmica tradicional, obrigatório seria criar uma linha que correspondesse às necessidades utilitárias deste final de século, já que no passado a cerâmica era, essencialmente, utilitária. Neste sentido, as peças e decorações tinham de ser concebidas para os requisitos mais exigentes, nomeadamente, predestinadas para a utilização em fornos tradicionais e micro-ondas, resistentes às máquinas de lavar e ao congelador, com uma estética e apresentação para servir à mesa e de grande resistência mecânica.Partindo destes pressupostos, a designer e escultora Gabriela Couto concebeu uma linha completa, cujo modelo recebeu o seu nome.Inicialmente criada com a decoração Porto, viu alargada a sua gama decorativa com as decorações Safira, Esmeralda , Ouro e Criança.

- Pavimento-painel para Bristol
Com o objectivo de corporizar fisicamente a geminação das cidades Porto e Bristol, entendeu a Bristol-Oporto Association , em colaboração com a Câmara de Bristol ( Bristol City Council), proceder ao estudo dum trabalho que aplicado em Castle Park em Bristol (grande jardim em Bristol objecto de recuperação no início dos anos 90), recordasse a todos os passantes a geminação das cidades do Porto e Bristol. Para tal procedeu a um concurso, aberto a todos os artistas do Porto e Bristol, com a condição de se o concurso fosse ganho por um artista do Porto teriam de ser entidades do Porto a apoiar a produção do trabalho e se fosse ganho por um artista de Bristol seriam entidades de Bristol a patrociná-lo. A sua execução seria feita na Cerâmica do Douro. Foi fácil em Bristol arranjar quem apoiasse mas nas entidades do Porto a resposta foi quase nula. Só uma entidade apareceu disponível mas colocou como condição, para o seu apoio, o poder indicar o artista a conceber o trabalho. Claro que esta condição não foi aceite e o concurso só teve artistas de Bristol. Os trabalhos estiveram expostos nas Caves Taylor em V.N.Gaia, tendo-se deslocado, expressamente de Bristol, dois artistas, dois membros para o júri (Os outros dois foram do Porto – Fundação de Serralves e Câmara Municipal do Porto), e dirigentes da Bristol-Oporto Association de que se destaca Mamarduke Alderson, grande amigo e entusiasta das coisas do Porto.O júri escolheu o trabalho de Vic Moreton, que tendo estudado a história das duas cidades encontrou três aspectos principais comuns: O terem sido grandes portos de chegada de barcos da pesca do bacalhau; o terem ligações ao rio e ao mar e o manterem uma tradição forte de afirmação perante as capitais dos respectivos países (Lisboa e Londres). O trabalho mostra um pavimento pintalgado simbolizando as águas do mar e do rio, com fósseis de bacalhau dispostos desordenadamente e um painel com a frase : “Sòmente os peixes mortos se deixam arrastar pela corrente”.O trabalho demorou quatro meses a produzir e foi inaugurado em Bristol, em 15 de Maio de 1993, com pompa e circunstância, pelas entidades de Bristol atrás referidas e por uma numerosa representação do Porto.

- Colecção “Casa do Infante”
Por sugestão do Sr. Dr. Manuel Real, director do Arquivo Histórico do Porto (Casa do Infante), sediado na casa onde nasceu o Infante D.Henrique e onde até finais do século passado funcionou a Alfândega do Porto, procedeu-se à produção de réplicas de algumas peças, reconstituidas a partir de fragmentos recolhidos nas escavações arqueológicas, a decorrer desde há alguns anos naquele espaço. Este trabalho constituído por 8 peças, iniciou-se com um tinteiro de mesa de 6 canetas, cujo levantamento foi maioritáriamente executado pela Engª Cidália Martins como estagiária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo.

- Colecção “Brasões de Famílias Portuguesas do século XIV”
Sob a direcção do Dr. Gonçalves Guimarães, director da Casa da Cultura da Câmara Municipal de V.N.Gaia, instalada no Solar dos Condes de Resende em Canelas, iniciou-se a edição dos brasões de famílias portugueses cujos nomes, ainda hoje em uso, remontam, pelo menos, ao século XIV .Do estudo feito pensa-se que só 66 nomes dos hoje usados remontam a tal época. Todos os restantes são de nascença posterior e alguns dos usados na época foram desaparecendo com o tempo.O documento base para este estudo foi o “Livro das Campaínhas do Mosteiro de Grijó”.Os primeiros seis nomes produzidos (Aires, Castro, Correia, Pereira, Ribeiro e Silva) foram já lançados , em estojo de madeira de carvalho e com acessórios de prata.

- Linha “Linguagem Gestual”
Apoiada nos modelos da linha Original, a decoração Gestual é uma criação que vem introduzir uma linguagem moderna e de grande nível artístico, inovando completamente a estética habitual nas decorações cerâmicas, quer ao nível das peças decorativas, quer na azulejaria.Com esta proposta de vanguarda, o Prof. Escultor Laureano Riba Tua veio trazer para a cerâmica linguagens da sua expressão pictórica. Aliás, é de referir que todas as linhas e decorações até hoje desenvolvidas na Cerâmica do Douro passaram pela sua supervisão de mestre artístico e professor de Belas Artes.Com esta linguagem gestual são produzidas as decorações azul e ouro, assim como a azulejaria em policromia.

- Linha de Esculturas
Visando, também, preencher um sector de mercado muito alargado, iniciou-se esta linha com um presépio inspirado em figuras andinas (Perú/Equador).Esta colecção tem vindo a ser alargada de acordo com as oportunidades e as solicitações (Ex: escultura “Maternidade” produzida para angariação de fundos do Rotary Club do Porto-Oeste e máscara “EVA e o Mundo, produzida no âmbito das comemorações do 50º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos).Mais uma vez, o Prof. Laureano Riba Tua deixa nesta colecção a sua marca de valor.

- Colecção “Ateneu Comercial do Porto”
Esta colecção foi desenvolvida a partir da exposição que o Ateneu Comercial do Porto promoveu com as peças cerâmicas do seu espólio.Constituída por cinco peças, é mais um conjunto de réplicas que transportam para os dias de hoje os valores de forma e decoração dos séculos passados, assim como trazem à memória peças cuja utilidade óbvia nesse passado se encontra ultrapassada no tempo presente (Ex: Boiões de Farmácia ).

- Colecção “Portugal/98 - 500 Anos de Descobrimentos”
Inserindo-se nas comemorações dos 500 anos da descoberta do caminho marítimo para a Índia, desenvolveram-se 12 temas, em 26 peças, representativos dessa façanha.Os temas figurativos são retratados de forma conhecida (Infante; Vasco da Gama e o seu brasão; Iluminura de D.Manuel I; Padrão dos Descobrimentos; Moeda Manuelina; Caravela Portuguesa; Janela do Convento de Cristo; Nau Portuguesa). Os outros temas (Tágide; Neptuno e Adamastor) são “visões” do artista criador (Prof. Laureano Riba Tua).

- Colecção “Reflexos do tempo”
Ainda em preparação, nesta altura da redacção deste livro, vai constituir um relance do passado com pinceladas do presente. Os temas serão réplicas dalguns já utilizados e que contêm uma representatividade da natureza expressiva da cerâmica tradicional.Será completada com a colecção a ser lançada no próximo ano, inserida no Porto-Capital Europeia da Cultura em 2001.

CAPÍTULO IV - A CERÂMICA DO DOURO VISTA DE FORA
Ao longo destes 10 anos muitas foram as referências feitas pelos vários orgãos de comunicação social (TV, rádio e imprensa), assim como várias entidades se interessaram pelo trabalho que tem vindo a ser desenvolvido.As cópias, em anexo, de textos publicados na imprensa são apontamentos escolhidos dum manancial com várias dezenas de páginas.Por outro lado, algumas instituições e finalistas universitários têm realizado trabalhos, exposições e estágios com base na iniciativa de recuperação da cerâmica tradicional, sendo de destacar:- NET - Novas Empresas e Tecnologias SA- Quaternaire SA- Engº Bessa Mendes - Universidade Fernando Pessoa- Engª Cidália Rodrigues - Instituto Politécnico de Viana do Castelo- Engª Idalina Machado - Instituto Politécnico de Viana do Castelo- ICEP - Exposições em Washington; Zurique; Florença; Joanesburgo; Rio de Janeiro; Tóquio;Dubai.Das referências feitas nestes trabalhos apontam-se alguns exemplos.
Relatório do estágio do Engº Bessa Mendes:...“Perceber a natureza da Cerâmica do Douro passa principalmente pela compreensão da mensagem que irradia da forma e decoração das peças que ali se produzem. Por aí se aprende uma definição para a expressão “Cerâmica Tradicional” e que, por essa definição, a vida dos povos se prolonga muito para além da morte e se funde com as inquietações dos vivos, comunicando, na linguagem plástica da forma e decoração, as sínteses do sentimento e do saber de milénios e para milénios.A missão da Cerâmica do Douro é dar continuidade à cerâmica tradicional.Aprende o visitante que o negócio da cerâmica tradicional não se esgota nem se comprime no compromisso das dimensões: tecnologia, necessidade e cliente e que as acepções estreita e larga se apoucam perante a magnitude esmagadora da criação e perpetuação da dignidade humana.O aluno do marketing hesita entre o que aprendeu na Universidade sobre o conteúdo da missão e o que sente ali onde sentimentos nascem e não comenta esperando, pela forma, dizer o que, confessa, não saber escrever.Do processo de criação se pode dizer que tudo começa com a ideia mais assente no ser que mitigada no ter de ser e a partir do instante que ela é, ela caminha pelos seus próprios passos guiando o escultor, o historiador, o artista, por museus, por livros, colecções particulares, por igrejas e conventos, por escavações arqueológicas, reconstruindo fragmentos que hão-de dar lugar a estudos, esboços, desenhos, modelos, formas, decorações e finalmente um novo fôlego de vida se desprende numa luz só que vem da peça acabada de nascer.”....
Relatório do estágio da Engª Cidália Rodrigues...“A fábrica Cerâmica do Douro , para a realização de todas as suas peças, obedece a determinados critérios nacionais e sectoriais de desenvolvimento tais como: utilização e formação de recursos humanos qualificados; fabricação de um produto não existente no mercado; divulgação da cultura portuguesa e imagem de marca nacional; fabricação de um produto de alta qualidade usando para isso a porcelana; utilização de tecnologia avançada como fornos revestidos a fibra cerâmica de baixo consumo energético e introdução de refractários de SiC recristalizado, tendo em vista a economia de energia e a qualidade do produto; decoração totalmente pintada à mão; produção de séries limitadas e numeradas; respeito pelas exigências de defesa do consumidor (não libertação de contaminações metálicas e grande resistência ao ataque químico e mecânico nas utilizações quotidianas).”
Estudo da NET - Novas Empresas e Tecnologias:....” O posicionamento que tem sido seguido pela Cerâmica do Douro assenta na alta qualidade ao preço correcto, e não na baixa qualidade a baixo preço.Este posicionamento que se considera adequado, baseia-se no facto de que os produtos de alta qualidade são sempre vendáveis, desde que estejam de acordo com os gostos e preferências dos públicos-alvo.Uma vez que esta linha condutora se baseia num pressuposto correcto, são necessários esforços acrescidos no sentido de identificar o “target específico” e meios para o atingir.Um outro factor decisivo, consiste no facto de que os projectos de alta qualidade nunca são projectos de curto prazo, mas sempre de longo prazo - período de adopção dos produtos relativamente longo.”
A N E X O S
CRONOLOGIA DAS PEÇAS COM A DECORAÇÃO “PAGODE”
Peças de oferta não comercializadas
- 1990 - Caneca (leiteira)- 1991 - Azulejo- 1992 - Jarra nº 3- 1993 - Púcaro nº 4- 1994 - Cinzeiro redondo nº 2- 1995 - Prato de sobremesa- 1996 - Cinzeiro quadrado- 1997 - Jarrinha bojuda- 1998 - Travessa pequena- 1999 - Covilhete nº 2
REFERÊNCIAS TÉCNICAS- Pasta : Porcelana, ref. PC189B(80189), da KPCL- Desfloculante: 86900- Densidade: 1,71- Viscosidade (cm3/s): 2,1 cm3/s- Vidrado: EP 140T(983140) da KPCL- Desfloculante: KPCL- Densidade: 1,41- Viscosidade (cm3/s): 2,9 cm3/s- Ouro: Degussa GG10010- Platina: Degussa GP 350- Pigmentos: Degussa (várias referências)- Fornos : Fornocerâmica, intermitentes, de vagona, a gás propano, forrados a fibra cerâmica.-
Resistência ao choque térmico:
- Chapa eléctrica................................. Sem danos até à secura total
- Superfície fria ................................... 260ºC~
- Superfície húmida fria...................... 300ºC
- Imersão em água fria ...................... 270ºC
- Enchimento com água fria .............. 260ºC

Abril de 1999

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