terça-feira, 20 de maio de 2008

A Cerâmica no Dia a Dia

Cerâmica no dia a dia

NOÇÕES PRÁTICAS

Introdução

Apesar da cerâmica acompanhar a presença humana à face da Terra desde há milénios, continuamos a conviver com os mais variados produtos cerâmicos sem conhecer muitas das suas características, as formas mais adequadas de uso, os cuidados a ter na sua utilização, os inconvenientes de certos produtos e suas limitações, enfim, ignorando as qualidades e defeitos duma companhia com quem contactamos todos os dias, não tirando as vantagens que esse conhecimento proporciona.
A necessidade duma melhor compreensão das diferentes características dos produtos cerâmicos é cada vez mais pertinente, tendo em conta que o avanço científico e tecnológico nos põe em presença de exigências novas, sem que tenhamos tempo de sedimentar o saber da experiência que nos possibilite acompanhar e assimilar as principais e mais importantes potencialidades daquilo com que nos confrontamos.
Certamente que já nos interrogamos muitas vezes sobre certos aspectos inerentes à utilização de materiais cerâmicos. Quem é que já não se questionou sobre:
- Será que esta chávena pode ir ao micro-ondas?
- Será que os pratos que usamos são os mais adequados para lavar na máquina de lavar louça?
- Será que a louça com dourados tem algum inconveniente ou fragilidade?
- Porque é que algumas jarras marcam os fundos nos móveis e outras não?
- Porque é que alguns tipos de azulejos caem das paredes e outros não?
- Quais são as decorações que resistem à máquina de lavar?
- Qual o melhor tipo de louça para ir ao forno, ao congelador e à máquina de lavar?
Muitas destas e outras perguntas colocam-se-nos frequentemente, mas, por ausência de informação, passamos adiante e continuamos a usar os produtos orientados quase exclusivamente pelo preço, pela estética e pelo nome da fábrica. Ora, qualquer destes critérios pode nada ter a dizer com o fim a que destinamos as peças cerâmicas. Há peças caras que não são as melhores para fins comuns (Ex: as peças com ouro não devem ser utilizadas frequentemente em fins utilitários nem quando a louça é lavada em máquinas); há decorações bonitas mas que são desaconselháveis para colocar alimentos; há louças cuja composição mineralógica e porosidade são potenciais focos de doenças; etc. ...
Nos capítulos seguintes procurar-se-à responder a estas e outras questões, relacionadas com a cerâmica doméstica e decorativa.
A abordagem é feita propositadamente em termos práticos, procurando que os aspectos técnico‑científicos sejam expostos de forma mais acessível, deixando de lado questões e conceitos, assim como cerâmicas especiais e de consumo restrito, que por não se revestirem dum interesse mais imediato para o comum dos consumidores, poderiam tornar mais longa e menos prática esta publicação.

O que são Produtos Cerâmicos?

É clara a definição dum produto cerâmico: é todo o produto resultante da transformação irreversível de matérias primas naturais por acção do calor. O que quer dizer que misturando matérias primas naturais, em quantidades proporcionalmente calculadas, e submetendo esta pasta a uma temperatura suficientemente elevada para transformar essas matérias primas, estamos na presença dum produto cerâmico. Se é barro, faiança, grés, porcelana, vidro, etc. ..., isso depende das matérias primas, percentagens e temperaturas de cozedura que utilizamos . Mais adiante veremos as diferenças entre cada um dos produtos e suas formas de identificação. Mas quando falamos de cerâmica estamos a falar dum conjunto alargado de produtos, pelo que precisamos sempre de especificar mais pormenorizadamente aquilo a que nos queremos referir.
E quais são as matérias primas mais importantes usadas no fabrico das peças cerâmicas?
Tal como se disse, são naturais (existem tal e qual na natureza) e são do domínio comum: quartzo (a areia corrente é constituída maioritariamente por quartzo); feldspato (outro mineral comum e que é um dos constituintes do granito); misturas argilosas (a mais conhecida é o Caulino); outros materiais em menor percentagem mas que permitem efeitos e comportamentos necessários caso a caso (carbonatos, fosfatos, óxidos metálicos, etc. ...)
Estes materiais são tratados adequadamente (por ex: o quartzo e o feldspato têm de ser finamente moídos já que as dimensões em que aparecem na natureza não são ideais para fabricar pastas cerâmicas), misturados segundo proporções estudadas para cada produto (por ex: para fabricar porcelana é necessário preparar uma pasta com, aproximadamente, 50% de Caulino, 25% de quartzo e 25% de feldspato), moldados de acordo com as formas pretendidas, e submetidos a uma, ou mais, cozeduras. No final estamos na presença dum produto cerâmico e as matérias primas usadas na composição da pasta já se encontram transformadas, de forma que já não é possível separá-las e fazê-las voltar ao estado inicial, quer sob o ponto de vista químico, quer sob o ponto de vista mineralógico.Estamos então na presença dum produto cerâmico que resultou da transformação de matérias primas naturais por acção do calor.

Caracterização Básica dos Produtos Cerâmicos

Pode dizer-se que há uma característica (a porosidade) que divide os produtos cerâmicos em dois grandes grupos: produtos porosos e produtos não porosos.
Como a própria palavra indica os produtos porosos são aqueles que contêm poros na sua constituição, isto é, existem pequenos espaços (microscópicos) entre a estrutura constituinte do produto.
Por outro lado, os produtos não porosos são compactos, não tendo, portanto, qualquer poro na sua estrutura constituinte.
Como exemplos de produtos porosos podem referir-se os barros e as faianças.
Como não porosos temos o grés, a porcelana e o vidro (ou o pirex).
Esta característica (porosidade) é a primeira grande referência que devemos ter em conta na utilização dum produto cerâmico, já que a sua não observância pode proporcionar-nos surpresas desagradáveis. Esta característica é por si só indicativa sobre algumas aplicações utilitárias de peças correntes. Tratando-se de produtos porosos, o corpo da peça é constituído por materiais sólidos e espaços vazios (ainda que microscópicos), pelo que as peças porosas absorvem substâncias líquidas com que estejam em contacto (ex: água e gorduras) assim como outras substâncias que contenham líquidos (alimentos cozinhados por ex), não sendo, portanto as mais indicadas para usos alimentares ou para serem usadas em máquinas de lavar. É certo que a sua superfície é normalmente vidrada para proporcionar um certo isolamento, mas esta protecção é insuficiente na quase totalidade das utilizações domésticas. Mais adiante voltaremos a esta questão com mais pormenor.Os produtos não porosos são compactos pelo que não absorvem quaisquer outras substâncias com que estejam em contacto.
Há algumas maneiras simples de se diferenciar um produto poroso dum produto não poroso. Vamos só referir as quatro mais exequíveis por qualquer pessoa, sem necessidade de recurso a técnicas ou instrumentos complicados .
- Uma peça porosa é sempre mais leve que outra peça com as mesmas dimensões mas não porosa. Logo, se segurarmos em duas peças iguais em dimensões (comprimento, largura, espessura, etc...) e sentirmos diferença no peso, então a mais leve é porosa.
- Encostando a língua na parte desvidrada das peças (ex: no frete ou no pé das peças) se sentirmos que a língua fica ligeiramente presa é sinal que a peça está a absorver a saliva e, portanto, estamos na presença duma peça porosa.
- Encostando a ponta duma caneta de feltro, ou qualquer caneta com tinta líquida, à superfície desvidrada duma peça, se verificarmos que o ponto de contacto da caneta alastra é sinal de que a peça está a absorver a tinta e, portanto, estamos na presença duma peça porosa.
- Pesa-se uma peça seca e a seguir mergulha-se em água durante, por ex: duas horas. A seguir retira-se da água, limpa-se bem e volta-se a pesar. Se o peso aumentou é sinal de que a peça absorveu água e, portanto, estamos na presença duma peça porosa.

Produtos Cerâmicos Porosos

Os dois produtos mais conhecidos neste grupo são o barro e a faiança.
Sendo dois produtos classificados no grupo de materiais porosos, têm, no entanto, diferenças de composição e apresentação que os distinguem fácilmente.
O barro é o produto cerâmico constituído por matérias primas menos exigentes, normalmente de uma argila ou mistura de argilas, e com baixa temperatura de cozedura (cerca de 600 – 800 ºC). São exemplos deste tipo de produtos o barro vermelho ou o barro negro. Quando se destinam a usos utilitários (assadeiras, tigelas, pratos, etc...) são vidrados com vidros de baixa temperatura, sendo ainda, frequentemente, usado o chumbo como fundente do vidrado, o que torna este tipo de produtos desaconselhável já que o seu uso pode provocar problemas de saúde, tendo em conta que o chumbo quase não é eliminado pelo organismo, acumulando-se nos rins e no fígado, além de que a porosidade permite a infiltração de resíduos alimentares na estrutura das peças, podendo provocar distúrbios gastrointestinais. São produtos com baixa resistência mecânica (quebram-se com facilidade) e mais adiante abordaremos as implicações destes produtos com os seus usos.
A faiança é um produto cerâmico que, continuando a ser um produto poroso, já é obtido a partir duma composição mais elaborada, não necessitando, todavia, de matérias primas de grande exigência. Contém, na sua composição, os três grandes constituintes duma pasta de cerâmica fina (argilas, areias e fundentes), tratados individualmente antes da mistura, com cozedura a uma temperatura próxima dos 1.000 ºC, tendo um campo de aplicação que vai desde utensílios domésticos à azulejaria. São produtos com fraca resistência mecânica. A sua utilização tem, também, limitações semelhantes às do barro, que veremos mais adiante.

Produtos Cerâmicos não Porosos

Os produtos cerâmicos mais comuns existentes neste grupo são o grés, a porcelana e o vidro/pirex/cristal.
Todos são caracterizados por não absorverem quaisquer ingredientes com que estejam em contacto, já que a sua estrutura é compacta e impermeável. Apresentam, também, composições e características diferenciadas, assim como podem ter aplicações distintas.
O grés tem uma composição mineralógica já com características de alguma elaboração, tendo em conta a necessidade da sua impermeabilidade e a exigência dos usos a que se destina (desde a louça doméstica até aos usos industriais, como tubos de saneamento, sanitários, pavimentos, etc...). É cozido a temperaturas entre os 1.100 ºC e os 1.250 ºC. Apresenta-se no mercado, normalmente, em cores variadas (castanho nos usos industriais até ao branco ou beje nas usos domésticos), não tem translucidez e a sua resistência mecânica e refractária é alta.
A porcelana é a mais elaborada das pastas cerâmicas correntes. Obtida a partir de matérias primas de boa qualidade (Caulino, quartzo, feldspato e outras argilas em quantidades menores), é cozida a temperaturas entre os 1280 ºC e os 1400 ºC. É, geralmente, branca e tem uma alta resistência mecânica e refractária. Uma característica que a distingue de todas as outras pastas cerâmicas é a sua translucidez (deixa-se penetrar pela luz), o que lhe confere particularidades estéticas duma maior beleza e profundidade. É a pasta utilizada para peças de prestígio e de elevada exigência qualitativa.
O vidro é um produto cerâmico constituído esmagadoramente por quartzo (areia), com um alto grau de pureza. É cozido a temperaturas entre os 1.400 ºC e os 1.600 ºC, e, geralmente, é transparente. Frequentemente, com o objectivo de obtenção de efeitos estéticos especiais produzem-se vidros opacos ou coloridos. Tem baixa resistência mecânica e refractária.
O pirex e o cristal distinguem-se do vidro tendo em conta o objectivo de efeitos especiais tais como, por ex:, o aumento do grau refractário no pirex e um aumento de brilho e sonoridade no cristal com a adição de chumbo na sua composição.

Como se Produzem as Peças Cerâmicas?

Duas formas bem distintas se podem empregar na produção de peças cerâmicas: moldando a composição das matérias primas à temperatura de fusão (família das areias - vidro/pirex/cristal) ou à temperatura ambiente (família das argilas - barro/faiança/grés/porcelana).Enquanto que na produção de peças da família das areias a composição é injectada nos moldes no estado de fusão, ou trabalhada manualmente no estado plástico próximo da fusão, na família das argilas a composição é trabalhada antes da fusão, quer no estado líquido (as matérias primas estão numa suspensão com água), quer no estado plástico, depositando, ou prensando, a pasta em moldes com a forma da peça pretendida.
A formação das peças na família das areias é feita de acordo com o molde onde é injectada a composição com os materiais fundidos, ou trabalhada manualmente, ou por prensagem, de acordo com a forma pretendida pelo artesão.
A formação das peças na família das argilas é feita de forma semelhante à anterior, exceptuando no que toca ao estado das matérias primas como atrás se disse. Quando a composição contém água necessária ao processo de fabrico, a formação da peça obtem-se pela absorção, pelos moldes de gesso, da água existente na composição da pasta (é frequente designar este tipo de composições por barbotinas), ficando aderente à parede dos moldes de gesso a peça pretendida na espessura desejada. Na prensagem, como a quantidade de água pode ser quase nula na composição da pasta, utilizam-se moldes de gesso, de aço e de materiais sintéticos.Daqui se vê que, para se obterem peças mais finas, basta diminuir a quantidade de matérias primas ou o tempo de contacto com os moldes. Logo, uma peça mais fina gasta menos matéria prima e o tempo de fabrico é menor. Só que é mais leve e frágil além de, esteticamente, ser diferente.Na família das areias, as peças, depois de moldadas, à temperatura de fusão, têm de ter um arrefecimento gradual, após o que se segue o acabamento final, ou sem acabamento nas peças correntes.Na família das argilas o processo de fabrico é mais extenso. Após a moldação, geralmente à temperatura ambiente, segue-se o acabamento; 1ª codezura ou chacotagem (nalguns produtos existe só uma cozedura – por ex: pavimentos, cuja decoração, normalmente por serigrafia, e vidração são feitas antes da cozedura); pintura de grande fogo, se for o caso; vidração; 2ª cozedura – grande fogo; pintura ou aplicação de decalcomanias, de baixo fogo; cozedura da decoração de baixo fogo; acabamento final.A decoração com ouro, nas peças de ambas as famílias, tem de ser feita numa cozedura de baixo fogo, já que o ouro, nas suas diferentes composições, não suporta temperaturas acima dos 800 ºC.
Como atrás se diz, para se poder falar de produto cerâmico este tem de ser produzido a partir de matérias primas naturais transformadas pela acção do calor. Por conseguinte, é obrigatória, pelo menos, uma cozedura para se poder obter um produto cerâmico.As temperaturas a que são cozidos os produtos cerâmicos mais correntes são:
- Família das areias:
- Moldagem: 1400 ºC a 1.600 ºC
- Recozimento: 600 ºC
- Família das argilas:
- Chacotagem (ou primeira cozedura): 900 ºC a 1.000 ºC
- Cozedura:Barro: 600 ºC a 800 ºC
- Faiança: 900 ºC a 1.000 ºC
- Grés: 1.100 ºC a 1.250 ºC
- Porcelana: 1.280 ºC a 1.400 ºC
- Cozedura da decoração (baixo fogo): 600 ºC a 800 ºC

Em certos casos, e com pastas de características especiais, estas temperaturas poderão ser diferentes.

Principais Formas de Decoração nas Peças Cerâmicas

De uma forma simplificada, podemos dizer que são três os processos mais utilizados na decoração das peças cerâmicas:
- Decalcomania;
- Serigrafia;
- Pintura à mão.
A decoração por decalcomania caracteriza-se pelo facto dos motivos decorativos serem executados com recurso, na maioria das vezes, a processos fotográficos, informáticos e de impressão mecânica, que possibilitam a obtenção da decoração, com todas as cores necessárias, antes da sua aplicação nas peças cerâmicas.Depois de produzidos os decalques, estes são colados em folhas de papel, com uma cola sem resíduos minerais, de forma a que, após a sua aplicação na peças, a cola desapareça, através da cozedura, sem deixar vestígios. Para essa aplicação nas peças, torna-se necessário destaquar os motivos decorativos das folhas de papel onde estão colados e aplicá-los no local das peças cerâmicas onde se deseja a decoração.É um processo que recorre a meios mecânicos para a sua produção e usa-se, normalmente, quando é necessária uma grande quantidade de peças com o mesmo motivo, já que os custos envolvidos na preparação e execução dos decalques só são rentabilizados com séries de significativa dimensão.
A decoração por serigrafia, processo em diminuição de utilização, tem algumas semelhanças com a decoração por decalcomania. Mas não há produção de decalques, sendo os motivos “picotados” numa tela serigráfica e, por sobreposição da tela nas peças cerâmicas, procede-se à passagem da tinta, com a cor desejada, através desse “picotado” para a peça a decorar.Este processo de decoração por serigrafia tem vindo a perder campo de aplicação, à medida que a mecanização da decoração por decalcomania atinge produtividades e potencialidades significativamente superiores.Prato de porcelana com decalcomania.
A decoração por pintura à mão processa-se por acção directa, sobre a peça a pintar, dos procedimentos para a obtenção do efeito decorativo desejado. Para tal, utilizam-se pincéis adequados que o pintor manuseia de forma a que, gradualmente, a pintura vai-se desenvolvendo na superfície da peça. Com este processo nunca se consegue obter duas peças iguais, por muito que o pintor tente aproximar-se. No entanto, se esse for o objectivo desejado, é possível conseguir peças com uma aproximação que permite dizer que se trata de peças semelhantes.
Qualquer dos três processos de decoração pode ser utilizado nos diferentes tipos de produtos cerâmicos, após o processo de fabricação estar terminado, pelo que a decoração é mais uma operação subsequente à fabricação da peça, sujeitando as peças, quase sempre, a mais uma cozedura de “baixo fogo”. Em produtos de pouca qualidade, esta decoração é feita com tintas plásticas que não são sujeitas a cozedura, pelo que a sua aderência à peça é muito fraca.
Nos produtos da família das argilas é possível efectuar a decoração numa fase intermédia do fabrico das peças (decoração em crú e decoração sobre o chacote), chamando-se, normalmente, a este tipo de decorações de “grande fogo”, já que as tintas são cozidas simultâneamente com o vidrado à temperatura máxima do fabrico das peças. Num dos capítulos seguintes iremos ver o interesse particular deste tipo de decorações de grande fogo.
As formas de distinguir qual dos três processos de decoração existe numa peça cerâmica são, por vezes, pouco acessíveis ao utilizador comum. No entanto, há algumas regras práticas que, na maioria dos casos, possibilitam uma aproximação grande à identificação do processo de decoração.
- Na decoração por decalcomania e por serigrafia, os diferentes elementos que compõem a decoração são sempre, rigorosamente iguais;
- Na decoração por pintura à mão, nunca se consegue pintar, rigorosamente, dois elementos iguais;
- Nas decorações por decalcomania, as superfícies adjacentes aos contornos das diferentes cores aparecem sempre com igual distância e na mesma posição;
- Nas decorações por serigrafia e pintura à mão, as superfícies adjacentes aos contornos das diferentes cores dificilmente aparecem sempre com igual distância e na mesma posição;
- A linearidade dos traços em pintura à mão nunca se consegue com total rigor geométrico, sendo visível a expressão do trabalho manual, ao contrário das decorações por decalcomania e serigrafia em que os traços podem ter uma forma geométrica totalmente definida.
Convém, no entanto, ter em atenção que, com o objectivo de imitar a pintura manual, já se fazem decalcomanias e serigrafias com elementos diferentes e propositadamente não rectilíneos. Neste caso, deve-se observar duas peças e verificar se essas diferenças propositadas são iguais em ambas as peças. Se o forem estamos em presença de decoração por decalcomania ou serigrafia. Se forem diferentes poderemos estar em presença duma pintura manual.

Principais Aplicações dos Produtos Cerâmicos

Os produtos cerâmicos são utilizados em vários domínios da actividade humana, desde a física nuclear até à simples chávena de café com que todos os dias contactamos. Tendo em conta o carácter prático desta publicação, referimos a seguir, apenas, as utilizações mais comuns:
Na construção civil
- Tijolos- Telhas- Azulejos e ladrilhos- Sanitários- Lavatórios- Pavimentos- Etc...
Na indústria
- Material de laboratório- Revestimento de fornos- Suportes refractários- Acessórios de equipamentos- Material eléctrico- Isolamento térmico- Etc...
Na habitação
- Louça de mesa, chá e café- Louça de forno- Peças decorativas- Utilidades de jardim- Paineis de azulejos- Acessórios diversos- Etc...

Recomendações, Inconvenientes e Precauções a Observar na Utilização de Produtos Cerâmicos.

A evolução registada, durante a segunda metade do século XX, nas exigências legais a observar em todo o tipo de produtos, obrigaram os fabricantes cerâmicos a adequarem os seus métodos e formas de fabrico às novas realidades, com a consequente necessidade de acompanhar as inovações e a responder às novas solicitações dos consumidores.Tendo em conta o fim a que se destinam, podemos sintetizar as recomendações, inconvenientes e precauções a ter nos quatro tipos de utilizações que requerem cuidados particulares:

1 - Produtos cerâmicos que contactam com alimentos
Todas as peças que contactam com alimentos devem, quando decoradas, ter a decoração por debaixo do vidrado, de forma a evitar o contacto directo dos alimentos com a tinta das decorações, prevenindo eventuais contaminações, assim como a descoloração das decorações (frequentemente olhamos para as peças dum serviço e verificamos estarem com cores muito diferentes, principalmente quando têm filagens ou outras aplicações de ouro – as peças com decorações por cima do vidrado, ou com aplicações de ouro, devem ser evitadas nos usos domésticos, nomeadamente quando são sujeitas aos fornos micro-ondas ou às máquinas de lavar louça). Para minimizar o eventual efeito da contaminação dos alimentos com as tintas, quando a decoração é por cima do vidrado, tem vindo a ser imposto, pelas autoridades de quase todos os países, um controlo apertado do teor máximo que pode ser libertado dos metais empregues nas tintas, nomeadamente de chumbo e cádmio.Por outro lado, não é recomendável (nalguns países até é proibido) usar produtos cerâmicos porosos na confecção e transporte de alimentos, já que há o forte risco de se infiltrarem resíduos de alimentos nas partes não vidradas e fendilhadas das peças, com a consequente criação de germens patogénicos que poderão causar perturbações gastro-intestinais, além de os produtos cerâmicos porosos serem mais susceptíveis de racharem, nomeadamente quando usados nos fornos micro-ondas e nas máquinas de lavar louça.Como exemplo de produtos a serem evitados para confecção de alimentos, apesar de muito populares e, até, serem recomendados por “especialistas” de culinária, são alguns tipos de barro vermelho. Trata-se dum produto poroso, logo dos mais frágeis, como, também, ser ainda frequente o uso de chumbo na composição do seu vidrado (cozido a baixa temperatura), pelo que é fácilmente atacado pelos elementos ácidos existentes nos alimentos, nomeadamente o limão ou o vinagre, que, atacando a superfície do vidrado, transportam para os molhos e para os alimentos os metais existentes na composição desse vidrado.Não é por acaso que se diz que os assados nas assadeiras de barro vermelho ficam mais saborosos, principalmente quando as assadeiras são novas com aquele aspecto brilhante tentador. Na verdade, ficam mais saborosos porque o chumbo é um metal com sabor agradável. Só que é tóxico!Como recomendação, quando queremos peças cerâmicas para confeccionar e transportar alimentos, devemos optar por produtos cerâmicos não porosos (porcelana, grés, vidro e pirex) e com decoração por debaixo do vidrado. Para distinguirmos se um produto é ou não poroso basta seguir as hipóteses práticas atrás enunciadas na caracterização básica dos produtos cerâmicos. Para distinguirmos uma peça com decoração por cima do vidrado de outra com decoração por debaixo do vidrado, basta passarmos os dedos levemente por cima dos locais decorados. Se sentirmos alguma aspereza é porque estamos a contactar directamente com a decoração, logo é decoração por cima do vidrado. Se não sentirmos qualquer aspereza e, apenas, o toque macio da superfície vidrada, então estamos na presença duma peça com decoração por debaixo do vidrado.Existe, ainda, uma outra forma de decoração: incorporada no vidrado, o que quer dizer que a decoração foi aplicada por cima do vidrado e foi cozida à temperatura de fusão deste. Este tipo de decoração tem, praticamente, o mesmo campo de aplicações das decorações por debaixo do vidrado.

2 – Produtos cerâmicos sujeitos a condições ambientais adversas
Várias situações se podem colocar neste capítulo: locais exteriores, sujeitos ao sol, à chuva e a temperaturas extremas; locais interiores sujeitos a humidades e a amplitudes térmicas significativas; locais com forte probabilidade de ocorrência de solicitações ao choque.Como exemplos poderemos citar os painéis de azulejos, os objectos decorativos de exterior e os objectos de natureza lúdica (peças de jogos).Em todos estes casos, estamos perante situações em que é conveniente dispormos de peças cerâmicas com um reduzido, ou quase nulo, coeficiente de dilatação, para suportarem variações de temperatura sem o risco de fendilharem ou partirem. É, também, necessário que as peças não disponham de qualquer possibilidade de absorverem água e de aguentarem esforços mecânicos razoáveis, tendo em conta que os materiais cerâmicos não são inquebráveis.Neste sentido, é fundamental que a opção se diriga para produtos cerâmicos não porosos, resistentes a algumas solicitações mecânicas, de que são exemplo o grés e a porcelana, que, sendo decorados, o sejam por debaixo do vidrado (ou com a decoração incorporada no vidrado).

3 – Produtos cerâmicos para fins sanitários e de revestimento
Neste caso, estamos perante situações comuns e que, normalmente, dependem mais dos construtores civis do que do consumidor no seu dia a dia.No caso dos produtos cerâmicos para fins sanitários, de que os exemplos mais frequentes são os lavatórios, bidés e sanitas, em que só se utiliza, e ainda bem, o grés e a porcelana, já que é absolutamente necessário que se utilize produtos não porosos e com resistência mecânica. No entanto, ainda há no mercado algumas peças deste tipo em faiança, o que é fortemente desaconselhado.No caso dos materiais de revestimento para chão e paredes, importa ter em conta que, tratando-se, normalmente, de áreas com dimensões significativas, tem-se cedido a qualidade dos materiais em detrimento dos custos. Podemos dizer que, actualmente, todos os pavimentos são já (e bem) em grés, mas no caso da azulejaria de revestimento ainda se utiliza, na maioria dos casos, azulejos de faiança, com inconvenientes consideráveis, mas que, dado o custo significativamente inferior os torna ainda fortemente presentes no mercado. É que, como já sabemos, a faiança é porosa e tem baixa resistância mecânica, pelo que é frequente, num tempo de vida curto, o aparecimento de azulejos fendilhados e, até, partidos, danificando uma estética que, em muitos casos se deseja manter, além de se perder a capacidade de isolamento que se requer a um revestimento. Pelo menos, nas zonas contíguas aos lava-louças, lavatórios, banheiras e outras zonas afins, dever-se-á aplicar azulejos de grés ou porcelana. Mas, recomenda-se que todos os revestimentos sejam constituídos por materiais não porosos e mecanicamente resistentes (grés e porcelana),pois, além dos requisitos físicos serem melhores, possibilitam uma estética decorativa de maior alcance, nomeadamente quando se trata de azulejos de porcelana. Tal recomendação é mais fortemente sugerida quando se trata de revestimentos exteriores, assim como nos revestimentos de tanques e piscinas, em que devem ser feitos somente com materiais não porosos e resistentes mecanicamente.Refira-se, ainda, o caso das lareiras e fogões de sala, cujo revestimento é feito de placas e tijolos refractários. A composição e fabrico destes materiais refractários têm em conta a necessidade de resistirem a grandes amplitudes térmicas e a solicitações mecânicas consideráveis. Também aqui o consumidor, normalmente, não interfere na escolha dos materiais, já que os fogões de sala e as lareiras vêm equipadas de origem na sua quase totalidade. Importa, no entanto, ter em conta que na proximidade das lareiras e fogões de sala não devem ser aplicados materiais com grandes coeficientes de dilatação, nomeadamente nas paredes adjacentes em que os azulejos, caso existam, devem ser de grés ou porcelana.

4 – Produtos cerâmicos para fins decorativos de interior
Trata-se da situação menos exigente do ponto de vista das solicitações a que os produtos cerâmicos vão ser sujeitos.Logo, aqui, pode ser o efeito estético o mais preponderante, pelo que qualquer produto cerâmico pode ser utilizado. Importa, no entanto, ter em conta as características de cada produto de forma a que não surjam surpresas desagradáveis, Por exemplo, no caso de se optar por produtos porosos, é natural o aparecimento de fendilhagem nas peças ao fim de algum tempo (por vezes já estão à venda com o vidrado fendilhado). No caso de jarras este aspecto é grave, pois, tratando-se dum produto poroso, a água que se encontra no interior escorre pelo corpo da jarra (é um produto poroso) para o pé e marca os móveis onde está pousada.Por outro lado, tendo em conta que os efeitos decorativos desejados são valorizados com as peças cerâmicas utilizadas, convem ter em conta que quanto melhor for o produto cerâmico mais se valoriza esteticamente o espaço. Por exemplo, utilizando a porcelana pode-se tirar partido da sua capacidade de translucidez o que valoriza extraordinariamente qualquer efeito decorativo.

A Relação Qualidade/Preço
O preço não é tudo num produto cerâmico. De que adianta comprar um painel de azulejos mais barato se passado pouco tempo o vidrado começa a fendilhar e os azulejos caem , destruindo aquilo que queriamos que fosse um adereço de longa duração? De que adianta comprarmos uma peça mais barata se ela vai partir com mais facilidade nos fornos ou na máquina de lavar louça? De que adianta comprarmos uma peça com uma decoração muito rica se essa decoração vai descorar fácilmente perdendo-se todo o efeito de conjunto e estético? De que adianta comprarmos uma jarra mais barata se passado algum tempo (ou até logo no dia seguinte) ela passa a deixar a marca do fundo nos móveis estragando-os e degradando a estética da peça?Muitas vezes (quase sempre) somos condicionados pelo preço, na compra de um produto cerâmico, esquecendo que uma peça barata, mas que, por exemplo, quebre mais facilmente, acaba por ficar, ao fim de pouco tempo, mais cara do que outra peça com preço mais alto mas com maior resistência mecânica. Além de que as peças com melhores características físicas produzem efeitos estéticos de maior beleza.Espero que o que atrás fica dito, num tom que quis leve e fácil de entender por não especialistas, possa ser útil para quem gosta de saber o que utiliza e porque utiliza.

Características dalguns Materiais Cerâmicos
Porosidade(absorve resíduos)
Tendência para a fendilhagem
Resistência
Adequação
Estética
Choque mecânico
Choque térmico
Micro-ondas
Máquina de lavar
Congelador
Barro11231111
Faiança22221113
Grés55455553
Vidro55114453
Pirex55144453
Porcelana
55555555

1 – Pior
5 – Melhor

Ficha TécnicaTítulo:A Cerâmica no dia-a-dia
Autor:Manuel Almeida dos Santos
Composição Gráfica:Alexandra Manuela Santos MartinsFernando Manuel Sousa MartinsTiragem:100 Exemplares
Depósito Legal nº:244298/06Junho de 2006

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