terça-feira, 20 de maio de 2008

A Solidariedade

A Solidariedade

Rizzardo da Camino, no sua edição do “Breviário Maçónico”, define a solidariedade como a correspondência daqueles que estão unidos por um ideal, sendo uma acção recíproca, e que o maçon cultiva a solidariedade, não apenas no aspecto da sociabilidade, mas na forma de misticismo, na permuta dos pensamentos, na cadeia de união, nos bons e nos maus momentos.Ainda recentemente, na edição de Junho do “Le Monde Diplomatique” o escritor francês Pierre Bordieu disse a propósito do que titula “ O terrível descanso que é o da morte social” : “... Excluídos do jogo, cansados de escrever ao Pai Natal, de ficar à espera de Godot, de viver no não-tempo em que nada acontece, em que nada há a esperar, os homens desapossados da ilusão vital de terem uma função ou uma missão, de deverem ser ou fazer qualquer coisa, podem a certa altura, para se sentirem existir, para matarem o não-tempo... procurar... um meio desesperado de se tornarem “interessantes”, de existirem perante os outros, de acederem, em suma, a uma forma reconhecida de existência social.... Talvez haja, ..., uma filosofia da miséria, mais próxima da desolação dos idosos reduzidos à condição de apalhaçados vagabundos de Beckett do que do optimismo voluntarista tradicionalmente associado ao pensamento progressista. Um dos méritos do registo positivista é deixar-nos ouvir, melhor do que os clamores indignados ou as análises arrazoadas e racionalistas, o imenso silêncio dos desempregados e o desespero que exprime.”
O que há de possível associação entre a solidariedade que Rizzardo da Camino pugna para os maçons e o terrível descanso da morte social de Pierre Bordieu?É que a solidaridedade de Rizzardo evita qualquer tipo de morte social.Digo-o pelo sentir testemunhado ao longo do tempo que tenho estado entre vós e digo-o por experiência própria que, com grande afeição e generosidade, me foi dada usufruir.A riqueza dos sentimentos não se mede pelo dimensão do valor material. Há já alguns anos, escrevi em dois pequenos painéis cerâmicos que “Não há maior prazer que o prazer de dar” e “ Por pouco que se tenha deve chegar sempre para ajudar os outros”. No ano passado participei numa homenagem a um ilustre cidadão, que muito deu à sua terra, em que o lema era: “ A gratidão é um dom das pessoas boas e justas” e esta expressão passou a constar de mais um painel de azulejos. Pois meus caros irmãos, quero que saibam que, nem sempre conseguindo ser uma pessoa boa e justa, tenho sempre um grande prazer quando dou e sinto uma profunda gratidão quando sou tocado pelo altruísmo e solidariedade dos meus semelhantes.Ontem à noite, voltei a ouvir, com aos meus netos, uma história da literatura infantil chamada “A Festa da Malta”, constante dum disco antigo, já gasto pelas três dezenas de anos a tocar. Uma das canções desta história assente no seguinte poema
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Na música, uma nota de sol sozinha faz dó,
Pois não faz uma cantiga,
Assim como um só grão
Não faz uma espiga
Olha à volta e saberás
Que o lugar onde tu estás
Só é teu se o partilhares.
Abre as portas e as janelas
Anda ver que as coisas belas
Não são belas se as guardares
Se o teu braço não é forte
Pede a ajuda do outro braço,
Pois só se é forte acompanhado.
Já que não há força que sustente
A força de muita gente
A puxar para o mesmo lado

A vida tem-me ensinado que tudo isto é verdade e sinto-me na obrigação de dar disso testemunho.Há já alguns anos participei numa acção de solidariedade internacional para com grupos sociais carenciados do Uruguai. O cartaz que foi afixado nos locais em que as acções decorreram teve por lema: “ A melhor forma de agradecer a solidariedade é retribuí-la.”Nunca mais esqueci este lema. Podem acreditar que nunca o esquecerei.
Julho de 2003

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