terça-feira, 20 de maio de 2008

Deixem os Voluntários Serem... Voluntários

Deixem os voluntários serem... voluntários

Face à incapacidade, desde sempre demonstrada, das estruturas do Estado em responderem às necessidades e interesses dos cidadãos, tem-se vindo a assistir, nomeadamente a partir da segunda metade do século XX, ao surgimento das chamadas organizações de voluntários, que procuram colmatar as lacunas não preenchidas pelas instâncias oficiais ou exercem pressão para que os governantes cumpram os direitos de cidadania a que estão obrigados, quer sejam os direitos civis e políticos, quer sejam os sociais, económicos ou culturais.Disso são exemplo as associações de defesa dos consumidores, as organizações de direitos humanos, do ambiente, de assistência social, de cuidados médicos, de minorias étnicas, etc... .O aparecimento e desenvolvimento de tais associações pautou-se, até há relativamente poucos anos, pela defesa da sua independência, isenção e imparcialidade face a quaisquer tipo de poderes políticos ou económicos, já que a defesa dos princípios que as norteavam não podia conter o germen da suspeição que as dependências arrastam. Os seus membros e, nomeadamente, os seus dirigentes, exibiam uma elevada postura ética e de desinteresse pessoal por quaisquer benesses que os cargos poderiam proporcionar, fazendo gala do espírito de voluntariado gracioso que a sua acção comportava. Este perfil dotou essas organizações de pergaminhos de respeitabilidade, credibilidade, generosidade e altruísmo.Infelizmente, desde há alguns anos, o poder político, apercebendo-se da importância dessas organizações na formação da opinião pública, intentou uma estratégia de infiltração e conquista que tem conseguido fazer com que, hoje, a maioria dessas organizações mais não sejam do que braços camuflados desse poder político, minando a sua independência económica com subsídios, convites “generosos” para colaboração, doações envenenadas, gratificações, etc..., não sendo mais os seus dirigentes os verdadeiros voluntários mas sim mercenários ou, no mínimo, profissionais do voluntariado, que se aproveitam do prestígio das organizações para interesse pessoal, barrando o caminho aos verdadeiros voluntários que, neste época mercantilista, já têm o seu poder de defesa debilitado.Perante tal estado de coisas só resta exigir que o poder político deixe as chamadas organizações não governamentais em paz, não as infiltrando nem utilizando artimanhas para as trazer para a sua órbita. Estas organizações são necessárias se forem independentes, imparciais, isentas e voluntárias. Os voluntários exercem a sua acção pelo gosto da defesa das suas convicções, pela prática da solidariedade, por darem de si sem pensarem em si.
Deixem os voluntários serem voluntários!

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