Há cerca de três séculos Johann
Goethe, autor alemão, proclamou que “ Só
é digno da liberdade, como da vida, aquele que se empenha em conquistá-la”.
Na passagem do 42 º aniversário
da data em que o povo português se empenhou em conquistar a liberdade, palavra
muito cara a todos os cidadãos, cumpre-nos hoje dar testemunho do nosso
envolvimento afectivo com tal comemoração. Não só no plano simbólico mas, também,
no nosso empenhamento em dar continuidade a tal conquista, tendo em conta que a liberdade de quem quer tê-la convive,
hoje, com o medo de deixar de vir a tê-la ou, até, de a estar perder
paulatinamente.
Ora, o medo não é bom
acompanhante, pois só é livre quem não tem medo. O medo de perder a liberdade
de reunião, de associação, de pensamento e de circulação, tem de dar lugar à
coragem para a sua defesa. E temos de associar à liberdade, a igualdade e a
fraternidade, valores que corporizam a essência
da dignidade reconhecida a todos os cidadãos.
No dia de
hoje, importa averiguar se a dignidade se encontra ameaçada com os maus
exemplos da nova escravatura dos baixos salários e da precariedade, das guerras
disseminadas com execuções extrajudiciais comandadas à distância, dos refugiados que nos batem à porta, das chagas do desemprego da miséria e dos sem-abrigo , das crianças e dos jovens maltratados e sem esperança, das relações afetivas instáveis e conflituosas, dos presos a
quem é negada o perdão e a misericórdia, da nova roupagem da tirania. E importa
averiguar se podemos festejar a liberdade com tais atropelos à dignidade ou se
estamos dominados pela cegueira como Shakespeare retratou na seguinte reflexão:
“Que tempo terrível este em que os idiotas dirigem os cegos.”
Chegou há dias ao meu conhecimento que a nota de 20
dólares americanos vai passar a ter a fotografia da rebelde negra, libertadora
de escravos, Harriet Tubman. Também ela teve dificuldades em lutar contra a
escravatura, mas Tubman nunca deixou nenhuma das centenas de pessoas que
libertou para trás, e nunca ninguém morreu sob a sua vigilância. “Podia ter
libertado mais” garantia ela, “se os tivesse conseguido convencer que eram
escravos”. A luta pela sobrevivência
adia o querer de revolta dos escravos.
A sociedade tem pergaminhos onde
consta a sua luta contra estes males, pelo que temos de convencer os novos
escravos da sua condição, libertando-os desta escravatura moderna. Neste
sentido, exorto todos os cidadãos a reflectiram sobre o como podem levantar bem
alto o seu grito de liberdade sem se envergonharem dos muitos infelizes com que
tropeçamos nas ruas.
Voltaire, o grande filósofo das
luzes, foi bem claro quando disse que “o
homem que é livre deve governar-se mas se tem tiranos deve destroná-los”.
Os verdadeiros cidadãos não podem ter para com esta nova tirania económico-financeira onde
medram ladrões legalizados, vaidosos sem ética e sem vergonha, nem para com os novos
tiranos e seus sequazes, o comportamento que Zeca Afonso, o trovador de Abril,
denunciou na sua canção dos Eunucos:
Em
vénias malabares à luz do dia
Lambuzam
da saliva os maiorais
E
quando os mais são feitos em fatias
Não
matam os tiranos, pedem mais.
Viva o 25 de Abril !
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