quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Uma mudança de paradigma

“Uma mudança de paradigma: Considere as crianças parceiros competentes, cultivando a responsabilidade pessoal mais do que a submissão.” Learning for well-being – Fundação Calouste Gulbenkian A preocupação pela qualidade de vida na infância e na juventude tem merecido grande atenção desde o início do século XX. Para isso muito contribuiu o retrato traçado por grandes escritores de que Charles Dickens é, provavelmente, o mais significativo. Em Portugal não nos podemos esquecer da beleza da “Balada da Neve” de Augusto Gil. E porque não, também, Fernando Pessoa “Grande é a poesia, a bondade e as danças, mas o melhor do mundo são as crianças”?. Estamos no início de 2014. Como será o retrato, que deixaremos para a história, do momento que atravessamos? Três importantes relatórios viram a luz do dia recentemente. Da OCDE foi-nos dado a conhecer a situação da educação em Portugal em 2012; da Fundação Calouste Gulbenkian surgiu a edição do estudo do novo paradigma para a educação “Aprender para o Bem Estar”; o Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas divulgou o seu relatório sobre Portugal relativamente à (in)observância da Convenção dos Direitos da Criança. Das centenas de páginas destes relatórios respiguemos três parágrafos: OCDE - Reviews of Evaluationand Assessment in Education - PORTUGAL “Pg. 139 -An important challenge is that it is unclear that students are at the centre of the evaluation and assessment framework. Teaching, learning and assessment still take place in a somewhat “traditional” setting with the teacher leading his/her classroom, the students typically not involved in the planning and organisation of lessons and assessment concentrating on summative scores. The opportunity given to parents and students to influence student learning is more limited than in other OECD countries. The review team formed the perception that relatively little emphasis is given to the development of students’ own capacity to regulate their learning through self- and peer-assessment….” Fundação Calouste Gulbenkian – Aprender para o Bem Estar “Pg. 83 - Percebemos cada vez melhor que as escolas precisam de apoiar não só uma aprendizagem cognitiva, mas também um amplo leque de competências que permitam aos indivíduos participar bem na sociedade. Uma abordagem baseada em competências permite que os alunos não só adquiram conhecimentos sobre determinados temas, mas também que os compreendam, utilizem e apliquem no contexto mais amplo da sua aprendizagem e da sua vida. Também oferece aos alunos uma forma de aprendizagem mais holística e coerente, que lhes permite estabelecer ligações e aplicar os conhecimentos em várias áreas. Isto também inclui tornarem-se multiletrados num ambiente de aprendizagem digital. (…)” Comité dos Direitos da Criança da ONU – Relatório sobre Portugal - 2014 Ponto 31 - The Committee is concerned, however, that the respect for the views of the child is not adequately implemented in practice in all relevant areas and at the national and local levels. It is also concerned that the views of the child are not being sufficiently taken into consideration regarding the education system and its reform, as well as the insufficient training of professionals working with and for children regarding the right of the child to be heard.(…) Como fio condutor destas constatações ressalta a necessidade de mudança na perspectiva de como estamos a querer educar as nossas crianças e os nossos jovens. Está o foco do sistema educativo centrado na individualidade de cada criança ou antes no cumprimento dum programa insípido e pouco motivador? A quem imputar a principal razão determinante do comportamento inadequado dos jovens como é a negligência dos adultos (pais, professores, decisores, agentes sociais, etc…)? Desde há muito tempo que a Comissão Nacional para a Proteção de Crianças e Jovens em Risco nos vem alertando para os cerca de 70.000 jovens portugueses que todos os anos constam das suas listagens, em que o principal fator volta a ser a negligência dos adultos, seguida da exposição a modelos de comportamento desviante. E aqui coloca-se o quase baixar de braços perante o flagelo das dependências das drogas e do álcool. Quantas campanhas de grande destaque temos visto nas nossas escolas para a prevenção do tabagismo? É que é consensual que o tabaco é a porta de entrada para todas as outras drogas. Temos de mudar de paradigma! Os alertas de instituições credíveis não podem cair em saco roto. As nossas crianças, os nossos jovens, todos nós, temos o direito à felicidade. Que cada um faça a sua parte.

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